Internacional
Hong Kong volta a permitir protesto, mas sob medidas rígidas
Manifestantes tiveram que usar crachás numerados e não puderam cobrir o rosto. Número de participantes da passeata foi restrito a 100, sob escolta de 50 policiais. Atos políticos foram restritos em lei de 2020
A polícia de Hong Kong permitiu neste domingo (26/03) uma pequena marcha de protesto sob estritas medidas de segurança, em uma das primeiras manifestações aprovadas desde o fim das restrições da pandemia e desde a promulgação da restritiva lei de segurança nacional em 2020.
A polêmica lei foi aprovada depois que no ano anterior centenas de milhares de pessoas saíram às ruas durante uma onda de protestos antigovernamentais, herdeiras da Revolução dos Guarda-Chuvas, que em alguns momentos se tornaram violentos.
Crachás numerados
A manifestação deste sábado ocorreu no bairro de Tseung Kwan O, sob fortes restrições das autoridades, ao longo de uma rota isolada e com requisitos como o que determinou que todos os participantes usassem crachás numerados no pescoço e descobrissem seus rostos, de acordo com o jornal local South China Morning Post.
Cerca de 80 pessoas participaram da passeata, vigiadas por pelo menos 50 policiais. Elas protestaram contra um plano do governo para recuperar terras no bairro e contra a construção de pontos de coleta de lixo na região, que em sua opinião violam as leis ambientais.
A polícia da antiga colônia britânica justificou a obrigatoriedade dos crachás de identificação argumentando que existe o risco de criminosos se infiltrarem na manifestação e instigarem atos ilegais e violentos, de acordo com o jornal. A proibição de usar máscaras ou outras peças que escondam o rosto é baseada na legislação aprovada durante os protestos de 2019, sendo infração punível com até um ano de prisão e multas equivalentes a até 3.185 dólares (R$ 16.700).
Limite de 100 participantes
Além disso, o protesto foi limitado a 100 participantes, apesar de cerca de 300 pessoas terem pedido para comparecer ao ato. “Muitas pessoas não sabiam se deveriam ir por causa dessas condições muito rígidas, mas tivemos que aceitá-las”, disse Cyrus Chan Chinchun, um dos organizadores da marcha, a repórteres, esperando que os requisitos se aplicassem apenas nesta ocasião.
Um dos participantes, o jornalista britânico James Ockenden, de 49 anos, lamentou as fortes limitações que o governo de Hong Kong impõe aos protestos e considerou “humilhante” a obrigatoriedade de usar crachás numerados. “Precisamos ter uma cultura de protesto mais livre”, disse Ockenden, que marchava com seus três filhos.
A passeata deste domingo foi a primeira a ser autorizada desde a suspensão no começo do ano das severas restrições devido à covid-19. Protestos foram raros durante os três anos de pandemia.
Paralelamente, o ativismo político foi silenciado através de diversas medidas repressivas, como o silenciamento da oposição, o prisão de diversos ativistas e políticos oposicionistas, derrubada de sites pró-democracia e fechamento de veículos de comunicação independentes desde os movimentos de protesto de 2019 e a subsequente lei de segurança nacional de 2020.
Em junho do ano passado, a polícia de Hong Kong alegou “preocupações sanitárias” em relação à covid-19 para cancelar uma vigília lembrando o aniversário de 33 anos do Massacre da Praça da Paz Celestial, ocorrido em Pequim.