Internacional
Turbulência financeira ameaça países em desenvolvimento, alerta Unctad
Relatório aponta que expansão da economia de vários países ficará abaixo da registrada antes da pandemia; alta das taxas de juros custa mais de US$ 800 bilhões em receitas perdidas de nações em desenvolvimento; com desaceleração global, crescimento esperado é de 2,1%
A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad, divulgou nesta quarta-feira a atualização do Relatório de Comércio e Desenvolvimento.
O documento alerta que os países em desenvolvimento estão enfrentando anos de dificuldades, à medida que a economia global desacelera em meio à turbulência financeira.
Crescimento abaixo do pré-pandemia
O levantamento da Unctad aponta que o crescimento anual em grandes partes da economia global ficará abaixo do desempenho registrado antes da pandemia e bem abaixo da década de forte crescimento antes da crise financeira global.
A agência da ONU estima que os aumentos das taxas de juros custarão aos países em desenvolvimento mais de US$ 800 bilhões em receitas perdidas nos próximos anos.
A Unctad espera que o crescimento global em 2023 seja de 2,1%, menor que a projeção de 2,2% em setembro de 2022, assumindo que as consequências financeiras das taxas de juros mais altas estão contidas nas corridas aos bancos e resgates do primeiro trimestre.
Segundo o estudo, os países em desenvolvimento enfrentam o efeito do aumento da dívida e taxas de juros, preços dos alimentos e falta de liquidez suficiente.
Muitos portos de contêineres, como este na cidade de Nova York, tiveram um declínio na atividade como resultado da pandemia de coronavírus.
Crise de desenvolvimento
Além disso, muitos países em desenvolvimento enfrentam uma crise de cada vez mais profunda à medida que os níveis crescentes de dívida e os custos de serviço mais altos espremem o investimento produtivo nos setores público e privado.
A Unctad constata que 81 economias em desenvolvimento, excluindo a China, perderam US$ 241 bilhões em reservas internacionais em 2022, uma queda média de 7%, com mais de 20 países experimentando uma queda de mais de 10%.
Enquanto isso, os custos dos empréstimos, medidos pelos rendimentos dos títulos soberanos, aumentaram de 5,3% para 8,5% em 68 mercados emergentes. No geral, a pressão dos credores externos sobre os países em desenvolvimento para reduzir os déficits fiscais deve aumentar.
Superendividamento
Segundo a Unctad, o superendividamento resultará em uma crise de desenvolvimento e desigualdades mais amplas. Ao todo, 39 países pagarão mais aos seus credores públicos externos do que receberam em novos empréstimos, causando um impacto adverso nos investimentos públicos e na proteção social.
Ao longo da última década, os custos do serviço da dívida aumentaram consistentemente em relação aos gastos públicos em serviços essenciais. O número de economias que gastam mais com o serviço da dívida pública externa do que com a saúde aumentou de 34 para 62 durante esse período.
A Unctad alerta que, mesmo que as condições financeiras se estabilizem, a desaceleração do crescimento econômico em muitos países em desenvolvimento, combinada com o fim da era do “dinheiro barato”, aponta para futuras rodadas de endividamento.
Preços elevados dos alimentos prejudicam países em desenvolvimento
De acordo com o relatório, lucros recordes para comerciantes de commodities agrícolas foram impulsionados pela incerteza econômica e pela volatilidade do mercado nos últimos quatro anos.
Margens de lucro excepcionalmente grandes levaram a preços mais altos, o que destaca a concentração do poder de mercado em setores-chave. Nos países em desenvolvimento, a inflação dos alimentos continua alta, enquanto o impacto dos custos de energia varia de acordo com as regulamentações locais.
O relatório enfatiza que, no início de 2023, a inflação de alimentos permanece elevada, apesar de uma queda na inflação geral, com 25% a 62% do valor nominal impulsionado pela inflação de alimentos.
Revisão da dívida global
A Unctad recomenda uma revisão da arquitetura da dívida global, maior liquidez e regulamentações financeiras mais robustas para apoiar países em desenvolvimento.
A agência pede o fechamento das brechas na reforma financeira após a crise de 2007-09, a ampliação do escopo da supervisão sistêmica e uma regulamentação mais rigorosa das instituições bancárias paralelas.
A Unctad recomenda um mecanismo multilateral de liquidação da dívida, um registro de dados validados sobre transações de dívida de credores e devedores e análises aprimoradas de sustentabilidade da dívida que incorporem as necessidades de financiamento do desenvolvimento e do clima.