Saúde
É possível controlar a febre maculosa sem eliminar as capivaras?
Quando a fêmea termina de sugar o sangue do animal infectado com a bactéria Rickettsia rickettsii, ela cai no chão e abre um buraco no solo, onde deposita entre 7 mil e 10 mil ovos.
Controle simples
A febre maculosa é caracterizada como uma doença infecciosa causada pela bactéria Rickettsia rickettsii e é transmitida pelo carrapato-estrela Amblyomma spp, que se hospeda em animais de pequeno e de grande porte, como a capivara ou o cavalo.
Recentemente, um número relevante de casos fatais passou a preocupar as autoridades sanitárias, que voltaram a tomar algumas medidas de precaução com relação à doença.
Pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) conseguiram agora realizar o controle da doença em uma das fazendas da universidade usando dois métodos simples, largamente conhecidos: Usar carrapaticida e manter a grama cortada.
Quando a fêmea termina de sugar o sangue do animal infectado com a bactéria Rickettsia rickettsii, ela cai no chão e abre um buraco no solo, onde deposita entre 7 mil e 10 mil ovos. Cerca de 95% destes viram carrapatos, que, quando originados de uma fêmea doente, também ficam infectados e passam a transmitir a doença ao picar os animais e humanos.
Esses filhotes então sobem pelas plantas e ficam aguardando a passagem de um animal, ou um humano, para que possam pegar uma carona e sugar seu sangue, reiniciando o ciclo. Assim, uma das primeiras informações coletadas pelos pesquisadores sobre a doença foi o fato de a sua transmissão estar diretamente associada ao gramado.
A partir daí, os pesquisadores passaram a procurar maneiras de controle dos carrapatos por meio do uso de maquinários agrícolas. “Tratava-se de um problema ambiental, não de um problema de parasitismo,” explica o professor Carlos Alberto Perez, da ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz).
Deu certo, e a doença está sob controle no campus da universidade. Para evitar a transmissão da febre maculosa, as medidas a serem tomadas são a manutenção do tamanho da grama em áreas verdes, juntamente com a utilização de produtos químicos registrados para o controle do carrapato, o que deve ser feito com a supervisão de engenheiros agrônomos e florestais.
Antibióticos e capivaras
A febre maculosa está longe de ser uma novidade. O que aconteceu é que os casos foram controlados e quase desapareceram por mais de meio século.
O problema era grave no início do século passado. Contudo, a partir dos anos 1930, a venda livre dos antibióticos, quando não havia obrigatoriedade de receita para a compra dos medicamentos, ajudou a controlar a doença. “Então, durante mais de 40 anos, houve um silêncio epidemiológico,” comenta Carlos Alberto.
Também nessa época a caça de animais silvestres era uma prática comum, o que ajudou a manter o controle da capivara, que é um roedor e também se reproduz muito rapidamente.
Vieram então duas modificações: A compra de antibióticos ficou mais complicada, exigindo uma receita médica, e a caça de animais silvestres foi proibida, o que fez com que a população das capivaras explodisse, com os animais hoje ocupando inúmeras áreas urbanas. Ao contrário de outros países, o Brasil ainda não conseguiu implantar uma política de manejo dos animais silvestres que possam representar riscos para a população humana.
Diagnóstico da febre maculosa
Os sintomas iniciais da doença são febre alta, dor de cabeça, dores no corpo e calafrio. Em um segundo estágio, pontos vermelhos nas palmas das mãos e nas solas dos pés começam a aparecer.
O pesquisador explica que o desafio atual na identificação da doença é o fato de seus sintomas serem muito semelhantes aos de outras enfermidades – é fácil confundir a febre maculosa com a dengue, por exemplo.
Por isso é necessário informar ao médico sobre o possível contato com carrapatos para um diagnóstico mais preciso.