Internacional
Por que febre do feno ataca quem chega à Europa dos trópicos
O 8 de julho é Dia Mundial da Alergia. Muitos que nunca tiveram febre do feno em seus países tropicais a desenvolvem ao chegar no Hemisfério Norte. Veja por quê
Para alguns que se mudaram de países tropicais para não tropicais pela primeira vez, a mudança das estações é uma surpresa bem-vinda, com as cores fantásticas, o crescimento de nova vegetação e as mudanças na duração da luz do dia.
Para outros, a explosão vibrante da natureza que é a primavera passou a representar algo um pouco menos bonito: a febre do feno.
Achyut Shanker veio para a Alemanha pela primeira vez em agosto de 2022. Em sua cidade natal, Nova Délhi, ele nunca havia sofrido com alergias, disse ele à DW. O consultor de gestão está atualmente concluindo um mestrado na Hertie School em Berlim.
“Nunca tive essa sensação lá [Nova Délhi]… quando vim para cá [Berlim] no ano passado, foi a primeira vez que tive isso”, afirma Shanker.
Então, o que causa essas novas alergias em pessoas que nunca tiveram nada parecido antes?
O que é a febre do feno?
Acredite ou não, a febre do feno não tem nada a ver com o feno, e febre não é um sintoma comum dessa enfermidade.
A condição também é conhecida como “rinite alérgica sazonal”.
A febre do feno é causada por uma reação alérgica a algo que o corpo detecta como estranho. Nesse caso, essa substância é o pólen, que é essencialmente o esperma microscópico das plantas.
Quando ocorre?
“A primeira vez que senti foi em setembro. Depois, em fevereiro e novamente em abril”, afirma Shanker.
A febre do feno ocorre durante as épocas do ano em que determinadas plantas liberam seu pólen – daí o aspecto sazonal. Na primavera, árvores como a bétula produzem a maior parte do pólen no norte e centro da Europa, atuando como a principal fonte da febre do feno.
Durante o verão, um culpado é principalmente a grama, enquanto no outono, geralmente são as ervas daninhas, como a ambrósia.
Alergias são estranhas
As alergias são complicadas. Algumas pessoas as têm, outras não. Algumas as desenvolvem mais tarde, outras são alérgicas a coisas muito específicas. Ainda não se entende completamente por que elas aparecem em uma variedade tão grande. Em geral, isso tem a ver com a genética, o sistema imunológico e o ambiente.
Mudar para um novo ambiente ou clima, por exemplo, pode expor a pessoa a novas substâncias que causam alergias – tecnicamente chamadas de alérgenos.
Alguns estudos sugerem que brincar e se sujar na natureza durante o crescimento pode ajudar a reduzir o risco de desenvolver alergias mais tarde na vida.
Impacto na qualidade de vida
Embora não se pense que as alergias sejam um problema tão grave, doenças como a febre do feno vão muito além de um nariz escorrendo. “Para mim, acho que era mais o fato de drenar minha energia. Eu me sentia muito deprimido e como se não tivesse energia ou motivação para me levantar e ir para a universidade”, frisa Shanker.
A febre do feno pode causar sintomas incômodos, como espirros constantes. “Uma noite, eu estava contando, espirrei quase 25 vezes seguidas”, reclama Shanker.
A alergia pode causar sensação de inchaço no rosto, nariz entupido, olhos com muita coceira e tosse. Também pode desencadear sintomas de asma em pessoas com asma alérgica.
Esses sintomas, especialmente quando combinados, podem alterar seu humor, afetar seu sono e dificultar a concentração, de acordo com a associação American College of Allergy, Asthma & Immunology.
Na Europa, cerca de 40% das pessoas são alérgicas ao pólen, o qual é a fonte mais comum de alergias, de acordo com o Observatório Europeu de Clima e Saúde. E é provável que isso aumente com a mudança climática, que está prolongando e intensificando as estações de pólen. Isso não é uma boa notícia para pessoas como Shanker.
Reação exagerada
Algumas pessoas acham que as alergias se devem a um sistema imunológico problemático ou fraco, mas os especialistas dizem que isso é um mito.
“Isso surpreenderá a muitos, mas quem sofre de alergia tem, na verdade, um sistema imunológico melhor”, explica Torsten Zuberbier, professor de alergologia do hospital universitário Charité, de Berlim, em uma entrevista ao jornal Die Welt.
Ter um bom sistema imunológico não é algo tão ruim. O problema é que ele reage de forma exagerada, entrando em ação exagerada quando grãos de pólen microscópicos e inofensivos atingem o nariz ou olhos da pessoa. As células imunológicas os detectam e gritam “ataque”, desencadeando uma resposta imunológica.
As pessoas com febre do feno geralmente tomam medicamentos anti-histamínicos. Isso ocorre porque, quando o pólen entra no corpo de alguém com alergia, o sistema imunológico provoca um aumento na produção de histamina, uma substância química que informa ao corpo que algo potencialmente perigoso entrou e precisa ser eliminado.
Esse é o caso de toda reação alérgica, não apenas da febre do feno.
Pólen está por toda parte
O fato é que essa não foi a primeira vez que Shanker foi exposto ao pólen. “Até mesmo uma cidade como Bangalore é conhecida pelo pólen, mas quando fui para lá por alguns dias, não o senti”, diz.
De fato, o pólen está basicamente em toda parte – é como as plantas com sementes se reproduzem. O espermatozoide voador chega à chamada estrutura “feminina” das flores, o pistilo. O pólen fertiliza os óvulos para se desenvolver em uma semente e, com um pouco de sorte, transformar-se em uma planta. Portanto, onde quer que haja plantas que produzam sementes, há pólen.
Assim como as frutas, o pólen difere de acordo com a região geográfica – as mangas não crescem na Alemanha, por exemplo. Há muitas diferenças microscópicas no pólen das plantas, com base no local onde elas crescem.
O tamanho de um grão de pólen individual varia de cerca de dois a 100 micrômetros. Isso é pegar um milímetro e dividi-lo em mil partes.
Diferentes grãos de pólen ao redor do mundo
Para pessoas como Shanker, essa grande diversidade de pólen pode ser o motivo das alergias recém-adquiridas.
Assim como algumas pessoas podem ser alérgicas a apenas alguns tipos de alimentos, como amendoim ou maçã, as alergias ao pólen podem variar de acordo com o tipo individual de grão. E os grãos de pólen que são comuns na Europa não são os mesmos que os da Índia, por exemplo.
“Quando conversei com outros estudantes indianos, muitos deles estavam reclamando da mesma coisa [febre do feno]”, conta.
Alguns estudos confirmaram esse fenômeno, mostrando que os migrantes são mais propensos a alergias sazonais.