Internacional
Especialista em direitos humanos aponta “apartheid de gênero” no Afeganistão
Debates no Conselho de Direitos Humanos da ONU revelam necessidade de medidas firmes e determinadas para lidar com a crise; participantes citam discriminação sistemática, generalizada e institucionalizada para mulheres
O Afeganistão passa por um “fenômeno em evolução de apartheid de gênero” que precisa ser devidamente resolvido.
A afirmação é do relator especial* sobre a situação de direitos humanos no Afeganistão, Richard Bennett, que participou de diálogo interativo com o Conselho de Direitos Humanos nesta segunda-feira.
Nível chocante de opressão
Já o alto-comissário de Direitos Humanos da ONU, Volker Turk, afirmou nesta terça-feira que “o nível chocante de opressão das mulheres e meninas afegãs é incomensuravelmente cruel.”
Turk disse que “os direitos humanos no Afeganistão passam por um estado de colapso”, afetando a vida de milhões de pessoas.
No diálogo interativo, Bennet disse que a discriminação sistemática, generalizada e institucionalizada estabelecida no país tem o objetivo de excluir as mulheres de todas as facetas da vida.
Os suprimentos agrícolas são distribuídos às mulheres vulneráveis pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, FAO, em Mazar-i-Sharif, no norte do Afeganistão
Medidas firmes e decisivas são necessárias
Ele pediu mais uma vez ao regime Talibã que reverta suas “políticas draconianas e misóginas” e permitam que as mulheres trabalhem e administrem empresas. Bennet enfatizou também o apelo para reabertura de escolas e universidades com um currículo que atenda aos padrões internacionais.
O especialista disse que “lamentavelmente, o Afeganistão tornou-se um lugar onde as vozes das mulheres desapareceram completamente.”
Bennet afirmou que mais de dois anos após a tomada do poder pelos talibãs, o povo afegão se deparou com “uma crise humanitária e com um regime de facto que eviscerou os direitos, as oportunidades de vida e a dignidade das mulheres e meninas.”
Segundo ele, a perseguição de gênero pelo Talibã atingiu um novo patamar de “apartheid de gênero”. O relator pediu ao Conselho que tome medidas firmes e decisivas para resolver a crise dos direitos humanos no Afeganistão.
Táticas brutais
Relatórios recentes revelam que a atitude extremista do Talibã em relação aos direitos humanos permaneceu inalterada, com mais de 800 ex-funcionários do governo e forças de segurança nacional sendo vítimas de “táticas brutais.”
No debate com Estados-membros, diversos oradores manifestaram preocupação com as condições humanitárias, de direitos humanos e socioeconômicas cada vez mais preocupantes no país, afirmando que a situação das mulheres e meninas está se tornando cada vez mais grave.
Os debates indicaram que as violações e abusos sistemáticos seguem impunes, os direitos à educação e à expressão cultural e artística estão sendo suprimidos e as detenções arbitrárias e as execuções extrajudiciais continuaram crescendo.
*Os relatores de direitos humanos são independentes das Nações Unidas e não recebem salário pelo seu trabalho.