Internacional
Moçambique quer um mundo mais unido contra entrada ilegal de armas
Chefe da diplomacia fala de avanços após recente reorganização de grupos não estatais e onda de violência em Cabo Delgado; conversas com União Europeia visam elevar nível de cooperação que agora envolve somente meios não-letais
Autoridades de Moçambique querem que seja impulsionada a cooperação internacional que leve à descoberta e prestação de contas dos responsáveis pela entrada de armas que chegam aos grupos não-estatais.
Em Nova Iorque, a ministra moçambicana dos Negócios Estrangeiros, Verónica Macamo, explicou que houve um reagrupamento de grupos ilegais causando episódios recentes de violência na província de Cabo Delgado, no extremo norte.
Mecanismos não-estatais e não legais
Falando à ONU News, a chefe da diplomacia moçambicana citou avanços na situação em relação às últimas semanas, explicando que “eventualmente os mentores injetaram tanto armas como dinheiro”.
“Nós temos estado a defender que a proliferação de armas, mesmo não falando da proliferação nuclear, mas essas armas, que acabam matando e provocando danos nos nossos países, acabam criando condições para o retrocesso. É muito nocivo. Temos dito que há um protocolo que deve ser respeitado. Há instrumentos que devem ser respeitados. Portanto, o problema não é ter armas. Nós precisamos tê-las para nos defendermos. Os países todos precisam. Quando elas estão em elementos não-estatais, esse é um problema. O mundo apesar de se organizar, anda não conseguiu detectar quem são esses que usam os nossos países com mecanismos não-estatais e não legais.”
As Nações Unidas revelaram que um total de 112.894 pessoas já foram deslocadas na sequência de atos de violência desde finais de dezembro por grupos armados não-estatais.
Os atos ocorreram a meio da época de colheita em Moçambique, deixando os agricultores sem outra escolha senão abandonar as suas terras agrícolas e o seu gado.
Armas nas mãos do Estado
“Nós somos adversos a essa circulação de armas, porque isso cria problemas nos nossos países. Se as armas estivessem nas mãos do Estado, que tem responsabilidade atribuída para cuidar da soberania e defender a integridade territorial, enfim a autodefesa, ali não seria o problema. O problema são esses grupos. Como não sabemos quem são os mentores e estão por detrás, o mais importante é que continuemos a mobilizarmos para cooperar para que sejam encontrados, sobretudo, os que estão a financiar e a garantir logística, armamento e a alimentação esses grupos. Eles devem ser encontrados e responsabilizados.”
A ministra defende que seja impulsionada a cooperação com a União Europeia para que o auxílio passe a incluir material além do não letal. Macamo revelou que já decorrem conversas nesse sentido.
Ocha revelou a existência de novos deslocados com experiências traumáticas e sinais de angústia
“As pessoas dizem que não é possível que o terrorismo possa acabar, mas eu penso que se nós nos unirmos mesmo e fizermos um esforço muito grande como sociedade das nações, nós temos capacidade de, efetivamente, eliminar o terrorismo. Agora, é preciso que haja uma ação, é preciso que haja articulação, coordenação, troca de informações e estratégias.”
A cooperação da UE envolve o treinamento de forças, para o qual Macamo diz ser preciso novos moldes para ajudar a enfrentar as “investidas dos terroristas e tentar, efetivamente, fazer o esforço para eliminar o problema”.
O Escritório da ONU de Assistência Humanitária, Ocha, revelou a existência de novos deslocados com experiências traumáticas e sinais de angústia após terem testemunhado a morte de familiares e a destruição de propriedades nos últimos dias.
Parentes próximos dos que foram mortos, raptados e afogados por esses grupos carecem de apoio prioritário, incluindo os idosos, as pessoas com deficiência ou os pacientes em condições médicas preexistentes e as mulheres grávidas.