Internacional
Impasse político na Líbia é agravado por interesses externos, diz enviado da ONU
Nação árabe passa por instabilidade desde 2011, incluindo adiamento de eleições previstas para dezembro de 2021; representante da ONU diz que diferentes grupos competem por “mais poder e mais controle sobre a riqueza do país”; ele afirmou que posição geopolítica da Líbia atrai interesse de potências regionais e internacionais
O representante especial do secretário-geral na Líbia, Abdoulaye Bathily, disse em entrevista para a ONU News que não será possível alcançar uma solução no país enquanto “houver monopolização do processo político”.
O representante da ONU, que está encerrando seu mandato, alertou que os líderes de transição ao longo do último período continuaram a competir e não estavam realmente interessados na estabilidade do país.
Tentativas de diálogo
A nação rica em petróleo tem enfrentado múltiplos desafios desde a derrubada do Presidente Muammar Gaddafi em 2011. O adiamento das eleições nacionais, originalmente planejadas para dezembro de 2021, aprofundou ainda mais a crise.
Em novembro passado, o representante especial convidou líderes das cinco principais instituições da Líbia para diálogos que superassem o impasse. Participaram o Governo de Unidade Nacional, a Câmara dos Representantes, o Alto Conselho de Estado, o Exército Nacional Líbio e o Conselho da Presidência.
Na entrevista para a ONU News, Bathily observou que estas figuras-chave na Líbia “ainda não estão dispostas a participar de um processo de negociação abrangente ou acordo de paz”.
Ele apelou aos atuais líderes para que “tenham consciência da história e pensem no futuro do país”, pedindo que assumam responsabilidade moral.
O representante especial do secretário-geral na Líbia, Abdoulaye Bathily
Interesses geopolíticos de potências regionais e internacionais
O representante especial alertou que existe uma espécie de interesse renovado na posição geopolítica da Líbia por parte de uma série de potências regionais e internacionais. Ele afirmou que isso é o resultado de uma série de crises internacionais e regionais, incluindo a guerra na Ucrânia, o agravamento das crises em países como o Mali e Burkina Faso, e o afluxo de refugiados ao Chade.
Bathily ressaltou que enquanto os principais partidos na Líbia forem apoiados de uma forma ou de outra por partidos externos, “não será possível ter uma solução”.
O chefe da Missão das Nações Unidas na Líbia disse que a situação de segurança se tornou mais preocupante para os cidadãos à medida que diferentes grupos competem por “mais poder e mais controle sobre a riqueza do país”.
Espaço democrático “encolhendo cada vez mais”
Ele acrescentou que “os líbios aspiravam à democracia e à liberdade, mas com as rivalidades entre os líderes, as tensões crescentes e a competição entre grupos armados” o espaço democrático está “encolhendo cada vez mais”.
Na avaliação do representante da ONU, “a Líbia retrocedeu”, pois há mais pobreza, insegurança e menos democracia.
Bathily, que apresentou anteriormente a sua demissão ao secretário-geral da ONU e se prepara para deixar o cargo em breve, desejou sucesso ao povo líbio, “que merece paz, prosperidade e progresso”.
Entre outras questões urgentes na Líbia está a questão da migração, como explicou o alto-funcionário da ONU. Ele afirmou que o país se tornou cada vez mais “um estado mafioso dominado por uma série de grupos envolvidos em muitas operações de contrabando, incluindo o tráfico de seres humanos e de minerais como o ouro, e o contrabando de drogas”.
o procurador do Tribunal Penal Internacional, TPI, Karim Khan
Progresso em investigações do TPI
Por outro lado, o procurador do Tribunal Penal Internacional, TPI, Karim Khan, relatou “fortes progressos” nos últimos meses em relação às investigações conduzidas pelo seu gabinete na Líbia.
Em reunião no Conselho de Segurança nesta terça-feira, ele disse que a Equipe Unificada das Nações Unidas na Líbia realizou 18 missões em 3 regiões e recolheu mais de 800 provas, incluindo materiais visuais e sonoros, bem como mais de 30 declarações e testemunhos através de entrevistas.
As investigações são relacionadas a supostos crimes em centros de detenção entre 2014 e 2020, e foram estabelecidas com base na Resolução 1970 do Conselho de Segurança.