Internacional
Quem é o novo ministro da Defesa da Rússia
Economista Andrei Removich Belousov substituirá militar de carreira no comando da pasta, com a missão de estimular inovações e expandir a indústria bélica russa
O presidente russo, Vladimir Putin, surpreendeu ao realizar uma troca no comando do Ministério da Defesa neste domingo (13/05), substituindo um militar de carreira por um economista civil, mais de dois anos após o início da guerra na Ucrânia. O anúncio veio pouco depois de o líder russo assumir seu quinto mandato à frente da Presidência.
Após deixar o comando da Defesa, Sergei Shoigu, aliado de longa data de Putin, assumirá a presidência do Conselho Nacional de Segurança da Rússia.
O novo ministro, Andrei Removich Belousov, é avaliado em seu país como um bom nome para expandir a indústria da defesa russa e introduzir novas tecnologias e inovações. Ele também já atuou como consultor econômico de Putin.
“Hoje em dia, o vencedor no campo de batalha é aquele que estiver mais aberto para a inovação”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, ao comentar a indicação de Belousov.
Quem é Andrei Belousov
O novo ministro da Defesa, de 65 anos, formou-se na Faculdade de Economia da Universidade de Moscou em 1981. Em 2000, ele foi indicado consultor não permanente do primeiro-ministro russo, e assumiu o posto de vice-ministro da Economia seis anos mais tarde. Entre 2008 e 2012, administrou o Departamento de Economia e Finanças do governo, durante os anos em que Putin serviu como primeiro-ministro.
Em 2012, tornou-se ministro da Economia, atuando entre 2013 e 2020 como consultor econômico do presidente. Desde então, foi também vice-primeiro-ministro, e assumiu interinamente o cargo por algumas semanas quando o premiê Mikhail Mishustin estava com covid-19.
Uma reportagem de 2017 da emissora RBC afirmou que Belousov teria sido uma das autoridades que conseguiram convencer Putin de que a economia digital e a tecnologia blockchain seriam cruciais para o futuro. Segundo a emissora, ele praticou sambo – um tipo de arte marcial desenvolvida na antiga União Soviética – e karatê na sua juventude, mas nunca serviu nas Forças Armadas.
“O que um país soberano deveria ter, definitivamente, é a posse de seus próprios meios. Quem somos, de onde viemos e pra onde rumamos […] Não temos outra opção para nosso país que não seja adquirir ou reproduzir essa identidade”, afirmou Belousov em entrevista à RBC em 2023.
Segundo a imprensa estatal russa, Belousov afirmou em uma audiência de confirmação do novo gabinete de Putin que há burocracia excessiva em torno dos pagamentos de benefícios aos militares, além de problemas em questões como moradia e assistência médica.
“Acho péssimo quando os participantes da operação militar especial [termo utilizado por Moscou para descrever a invasão da Ucrânia] que retornam são encaminhados por instituições médicas civis para hospitais que estão simplesmente superlotados. Essas questões têm de ser resolvidas.”
As declarações foram feitas perante o comitê de Defesa e Segurança da Câmara Alta do Parlamento. Em sua fala, ele pareceu tentar demonstrar aos militares que entende suas preocupações e trabalhará para melhorar essas condições.
Disputa de poder entre os militares
A saída de Shoigu, de 68 anos, que estave à frente do Ministério da Defesa desde 2012, já vinha sendo especulada, enquanto analistas observam uma disputa de poder no círculo militar e de defesa da Rússia.
Como ministro, Shoigu for encarregado de modernizar as Forças Armadas. Ele possuía acesso direto a Putin, a quem acompanhou regularmente em excursões de caça e pesca na Sibéria.
O auge de sua popularidade ocorreu durante a anexação ilegal pela Rússia da Península da Crimeia, da qual ele teria sido um dos principais responsáveis.
Sua gestão se tornou alvo de fortes críticas desde o início da invasão russa da Ucrânia em razão de revezes militares nas frentes de batalha, e por sua incapacidade para enfrentar a corrupção nas Forças Armadas.
Ele também foi fortemente criticado durante um motim em 2023 dos soldados mercenários do Grupo Wagner, então liderado por Yevgeny Prigozhin, que culpou Shoigu pelos fracassos na Ucrânia e acusou o ministro de ordenar um ataque contra homens do grupo. À frente dos seus homens, Prigozhin tomou a cidade russa de Rostov, sinalizando que pretendia seguir para Moscou.
No mês passado, os serviços de segurança prenderam um de seus confidentes, o então vice-ministro Timur Ivanov, acusado de corrupção.
Lavrov permanece no cargo
O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas russas, Valery Gerasimov, continuará no cargo. Segundo Peskov, a estrutura militar do Ministério da Defesa não sofrerá mudanças.
Outro que permanecerá no cargo é o ministro do Exterior, Serguei Lavrov, de 74 anos, que lidera a pasta desde 2004. Havia especulações sobre uma possível saída dele em meio à formulação do novo gabinete, mas Putin considera Lavrov indispensável em tempos de crise no país.