Internacional
Scholz expressa preocupação com eleição na França
Chanceler federal alemão disse esperar que país vizinho consiga frear ultradireita. Pesquisas apontam liderança da legenda de Le Pen. Frente de esquerda aparece em segundo lugar, enquanto aliança de Macron patina
O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, disse neste domingo (23/06) esatr preocupado com a perspectiva de uma vitória da direita nas próximas eleições parlamentares da França.
“Estou preocupado com as eleições na França”, disse Scholz à emissora pública alemã ARD. “E espero que os partidos que não sejam o de [Marine] Le Pen, para dizer dessa forma, tenham sucesso nas eleições. Mas isso cabe ao povo francês decidir”, disse.
A direita lidera pesquisas
A apenas uma semana do primeiro turno das eleições legislativas na França, a direita vem aparecendo na liderança das pesquisas.
O partido Reunião Nacional (RN), liderado na prática pela veterana Marine Le Pen, e seus aliados, incluindo o presidente do partido conservador Os Republicanos (LR) Éric Ciotti, têm aparecido entre 35,5% e 36% das intenções de voto, segundo duas pesquisas publicas neste domingo.
A direita também aparece à frente da Nova Frente Popular, uma coalizão de partidos de esquerda (de 27% a 29,5%), e da aliança centrista do presidente Emmanuel Macron (de 19,5% a 20%).
A campanha do RN vem sendo liderada pelo presidente oficial da legenda, Jordan Bardella, que, assim como Marine Le Pen, vem repetindo a estratégia do partido nos últimos anos de propagandear uma imagem mais apresentável, em contraste com os anos em que a sigla era liderada pelo seu fundador, Jean-Marie Le Pen, conhecido por seus comentários racistas e antissemitas. No entanto, críticos apontam que isso não passa de um “rebranding” cínico, e acusam o RN de ainda ser o velho partido xenofóbico e extremista de sempre.
“Quero reconciliar os franceses e ser o primeiro-ministro de todos os franceses, sem qualquer distinção”, disse Bardella em uma entrevista ao Journal du dimanche.
Frente de esquerda
O temor de uma vitória do RN levou a oposição de esquerda a estabelecer uma aliança. A Nova Frente Popular é uma coalizão liderada por socialistas, ecologistas, comunistas e o partido A França Insubmissa (LFI, de ultraesquerda) que recebeu elogios do ex-presidente socialista François Hollande.
O líder do LFI, Jean-Luc Mélenchon, se recusou a “eliminar-se ou impor-se” como primeiro-ministro em caso de vitória da esquerda no segundo turno das legislativas, em 7 de julho.
Contudo, a aliança já vem sendo marcada por tensões, pois o LFI se recusou a readmitir os opositores do líder partidário Jean-Luc Mélenchon. Os membros excluídos se dizem alvo de um “expurgo” e acusam o ex-candidato presidencial de um “ajuste de contas”. Outros lamentam que o aliado de Mélenchon Adrien Quatennens se mantenha na legenda, apesar de ter sido condenado por violência doméstica em 2022.
Macron nas cordas
A aliança centrista de Macron, por sua vez, tenta estabelecer a posição de alternativa contra os “extremos”, em referência ao RN e ao LFI.
Ao distribuir críticas tanto à direita quanto à esquerda, Macron vem repetindo táticas já adotadas anteriormente. Macron chegou à presidência em 2017 com um discurso liberal de centro, atraindo eleitores descontentes com a tradicional alternância entre socialistas e conservadores. Na reeleição de 2022, ele já se apresentara como a alternativa aos “extremos”.
“Nosso país precisa de uma terceira força, responsável e razoável, capaz de agir e tranquilizar”, afirmou a aliada de Macron e atual presidente da Assembleia Nacional (câmara baixa), Yaël Braun-Pivet, ao jornal La Tribune.
Nas pesquisas, a popularidade de Macron está em queda livre, mas não atingiu o nível registrado durante a crise dos coletes amarelos em 2018: caiu quatro pontos, a 28%, na pesquisa do instituto Ipsos para o jornal La Tribune.
Também registrou queda na pesquisa Ifop para o JDD, com o retrocesso de cinco pontos, para uma aprovação de apenas 26%.
A decisão inesperada do presidente francês de convocar eleições legislativas antecipadas após o fracasso de sua coalizão nas eleições europeias de 9 de junho diante da direita, que obteve o dobro dos votos que os centristas, provocou um “terremoto político” de consequências incertas, segundo analistas.
Macron, no poder desde 2017, enfrenta dificuldades para concretizar seu programa de governo desde que perdeu a maioria absoluta na Assembleia Nacional nas eleições legislativas de junho de 2022. Ele defendeu a dissolução da câmara baixa como uma opção necessária para “esclarecer” o panorama político.
O chefe de Estado, que tem mandato até 2027, descartou, no entanto, a possibilidade de renunciar, independentemente do resultado das legislativas.