Internacional
Autor de atentado em Halle é condenado à prisão perpétua
Extremista de direita matou duas pessoas em 2019, após tentar invadir uma sinagoga no leste da Alemanha. No julgamento, o réu demonstrou pouco remorso e usou seu direito de fala para expor suas visões antissemitas
Um tribunal alemão condenou nesta segunda-feira (21/12) à prisão perpétua o autor de um ataque antissemita executado em 2019 contra uma sinagoga em Halle. O extremista de direita Stephan B. foi considerado culpado por dois assassinatos e em mais de 50 acusações de tentativa de homicídio.
A juíza Ursula Mertens apontou para a severidade particular dos crimes e descreveu repetidamente os dois assassinatos e as tentativas de homicídios como “covardes” e “cruéis”. Ela disse ter ficado horrorizada com o assassinato de um jovem de 20 anos, ocorrido num quiosque de comida turca localizado nas redondezas da sinagoga.
“Você executou o indefeso senhor S. de maneira covarde”, disse Mertens diretamente a Stephan B., antes de tecer comparações entre a vítima e o agressor. “Ao contrário de você, ele não ficou recluso em seu quarto da infância – ele trabalhava, gostava de futebol, tinha qualificações.”
A juíza afirmou que o réu, aos 27 anos, ficava sentado no mesmo quarto de sua infância absorvendo “teorias da conspiração grosseiras” na internet. Ela disse ainda que não podia culpar os familiares dele por não terem evitado os crimes, mas apenas por se recusarem a testemunhar. Mas aparentemente ninguém tentou desiludi-lo de sua visão extremista do mundo, acrescentou.
O réu ocasionalmente sorria e revirava os olhos enquanto a juíza lia o veredicto. Cerca de 45 sobreviventes do ataque à sinagoga compareceram ao julgamento como demandantes, e muitos estavam presentes na leitura da sentença.
A tentativa de atentado à sinagoga em Halle é considerada a pior atrocidade antissemita na Alemanha desde o Holocausto.
O réu é um alemão de 28 anos que demonstrou pouco remorso por seu crime durante o depoimento de encerramento de seu julgamento. Ele confessou o ataque e usou seu direito de fala para expor visões antissemitas e negar o Holocausto, o que é considerado um delito na Alemanha.
O que aconteceu em Halle?
Em 9 de outubro de 2019, Stephan B. tentou invadir a sinagoga da cidade de Halle, localizada no leste da Alemanha. No momento do ataque, 52 pessoas estavam na sinagoga celebrando o Yom Kippur, o dia mais sagrado do calendário judaico.
Um massacre foi evitado simplesmente pelo fato de seu arsenal de armas de fogo e explosivos caseiros ter sido incapaz de quebrar os portões externos da sinagoga, que estavam trancados. Frustrado, ele matou duas pessoas aleatórias – uma pedestre de 40 anos e um jovem que almoçava numa lanchonete de kebab – antes de atirar em vários policiais e contra outros pedestres enquanto tentava fugir.
Apesar de passar pela polícia em frente à sinagoga, ele foi detido apenas 90 minutos depois, cerca de 40 quilômetros fora da cidade de Halle.
Radicalizado no submundo da internet
A atrocidade chocou a Alemanha, principalmente por causa do alvo escolhido pelo agressor: a comunidade judaica de Halle, cuja maior parte estava dentro da única sinagoga da cidade acompanhada de visitantes judeus dos Estados Unidos e de outro lugares.
Se Stephan B. tivesse conseguido romper o portão externo, ele poderia ter sido responsável pelo mais mortífero atentado antissemita na Alemanha após a Segunda Guerra. Seu advogado de defesa Hans-Dieter Weber comparou o crime cometido por seu cliente com os cometidos pelos nazistas.
E pouco atenuou o fato de Stephan B. ter aparentemente agido sozinho. Ao contrário da maioria dos outros terroristas de extrema direita ativos na Alemanha nos últimos anos, Stephan B. não era membro de nenhuma célula terrorista neonazista, como a Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU), e não se juntou a nenhum grupo político extremista.
Em vez disso, ele representa um novo tipo globalizado de terrorista isolado. Ele foi radicalizado por uma comunidade global da internet composta por jovens geralmente isolados que se reúnem em fóruns conhecidos como “imageboards” – fórum de discussão que se baseia na postagem de imagens e texto, geralmente de forma anônima.
E como esses fóruns prosperam por não serem moderados, muitos “imageboards” se tornam criadouros de antissemitismo, racismo e misoginia. Ataques como em Christchurch, na Nova Zelândia, em março de 2019, e em Halle foram transmitidos ao vivo em canais desse tipo, especificamente para inspirar e encorajar uns aos outros.
A aparente relutância da polícia em investigar essa subcultura violenta foi um tema consistente durante o julgamento, o que irritou alguns dos sobreviventes presentes no tribunal. Em depoimentos como testemunhas, alguns dos policiais admitiram que sabiam pouco sobre o submundo da internet que radicalizou o réu.