Educação & Cultura
Escritora cabo-verdiana Vera Duarte Pina defende no FliParaíba educação como pilar fundamental do futuro descolonizado
Dez ideias para um futuro descolonizado norteiam as discussões que irão acontecer no 1º Festival Literário Internacional da Paraíba (FliParaíba), que acontece em João Pessoa da próxima quinta-feira (28) até sábado (30), no Centro Cultural São Francisco, com o tema “Camões 500 anos – uma nova cidadania para a língua”. Entre as mesas está “Pluralidade e diversidade: educação como pilar do futuro descolonizado”, que acontece na sexta-feira (29), às 11h, composta pela escritora cabo-verdiana Vera Duarte Pina, e pelas escritoras Maria Valéria Rezende e Neide Medeiros, radicadas na Paraíba.
Vera Duarte chega à Paraíba para contribuir com a programação a partir de sua sólida experiência. Nasceu no Mindelo, Cabo Verde. É juíza desembargadora, poeta e ficcionista. Membro de várias Academias e organizações literárias nacionais e internacionais, foi ministra de Educação e Ensino Superior, presidente da Comissão Nacional para os Direitos Humanos e Cidadania, conselheira do Presidente da República e juíza conselheira do Supremo Tribunal de Justiça. Já recebeu diversos prêmios e tem 20 títulos publicados e mais de 100 participações em obras coletivas.
Ela conta que já esteve em diversas cidades do Nordeste, mas que é a primeira vez em João Pessoa. Sobre o FliParaíba, Vera afirma que “a realização desta primeira edição do Festival em João Pessoa é uma imagem muito bonita a essa situação do finisterra que tanto sublinharam. Quer dizer, é onde termina um mundo conhecido e começa um mundo que nós queremos construir sobre as bases de tudo o que nós podemos encontrar e descobrir em Luís Vaz de Camões, nomeadamente essas 10 ideias que devem ser precursoras”.
Na mesa que a escritora vai integrar, a discussão se volta para o papel da educação em um contexto decolonial, onde se busca a libertação dos povos e o fortalecimento de suas próprias narrativas e culturas. Se refletirá sobre como a educação pode ser um pilar para a construção de um futuro onde cada nação tenha o poder de determinar seu destino.
Para Vera, “a educação é mesmo o pilar fundamental para um futuro descolonizado. Porque é através da educação que conseguimos ajudar a criar nas crianças e nos jovens um espírito crítico em relação a tudo o que existe na nossa sociedade, e a criação do espírito crítico depois permite-lhes, eles mesmos, poderem fazer as suas escolhas. Como diz Kant, a educação tem quatro momentos: o primeiro momento é a socialização da criança; o segundo momento é a criação de habilidades e talentos; o terceiro momento é a formação de um espírito crítico, de uma consciência crítica; e o quarto momento é o momento de fazer as escolhas, que o cidadão possa fazer as escolhas mais acertadas.
O tema dialogia de forma interessante com a trajetória profissional de Vera Duarte. Segundo ela, “enquanto ministra da Educação e Ensino Superior, uma das maiores felicidades que eu tive foi a introdução no currículo escolar de uma disciplina denominada “Educação para a cidadania”. Através dessa disciplina, todas as matérias que concernam os direitos humanos, e nomeadamente os direitos humanos da mulher, têm entrada no ensino formal e isto é fundamental para a formação da juventude. E a questão do racismo ou a questão do sexismo devem constar efetivamente do tratamento que se faz nesta matéria”.
Racismo e sexismo – Outros dois aspectos serão destacados pela escritora, “aspectos que eu considero extraordinários na obra de Luís Vaz de Camões que podem e devem passar a constar nos manuais do nosso ensino básico e por isso eu vou abordá-los”.
Vera Duarte se refere à “questão do racismo e tudo o que Camões nos trouxe com aquele poema “Endechas a Bárbara escrava”, que no momento em que o cânone de beleza era a mulher loura e branca, Camões exalta a mulher negra, ainda por cima escrava. O segundo aspecto é, numa época em que as mulheres eram absolutamente invisíveis e não tinham qualquer tipo de protagonismo por causa de todo o tradicionalismo e o patriarcalismo, Camões, em Os Lusíadas, no “Canto nono”, traz um exemplo magnífico de protagonismo de mulheres. Então, eu penso que esta afirmação, em pleno século XVI, da possibilidade de protagonismo das mulheres, é qualquer coisa de exaltante”.
Ela aproveita a ocasião para convocar todos os poetas, escritores e estudiosos que estiverem para, “na base dessas duas vertentes da escrita de Camões que assinalei, lançarmos um grande clamor com o slogan “Racismo nunca mais, sexismo nunca mais”, que possa partir de João Pessoa e ir para toda a nossa Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e ir para o mundo afora”.
Lançamento de livro – Durante o evento, Vera Duarte Pina vai lançar o livro Blimundo, o boi que mexeu com o universo. Ela diz que o conto infanto-juvenil foi ilustrado e publicado pela editora Nandyala, de Minas Gerais. “O livro é uma homenagem ao centenário do nosso herói e fundador da nacionalidade cabo-verdiana e guiniense, Amílcar Cabral.
FliParaíba – Com o tema “Camões 500 anos – uma nova cidadania para a língua”, o Festival tem o objetivo de promover a literatura paraibana, o intercâmbio entre escritores do Brasil com outros de países lusófonos, além de estimular nos jovens o hábito da leitura e da produção literária. Para a realização do Festival foi formalizada a parceria com a Associação Portugal Brasil 200 anos (APBRA).
A programação conta com a participação de escritores e pesquisadores de destaque regional, nacional e internacional, além de apresentações culturais, exposições, e estandes de diversas livrarias e editoras, com lançamentos de livros. As informações estão disponíveis no site https://fliparaiba.org/
A iniciativa do Governo da Paraíba ocorre por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), Secretaria de Comunicação Institucional (Secom), Empresa Paraibana de Comunicação (EPC), Fundação Espaço Cultural (Funesc), Secretaria de Estado de Administração (Sead), Fundação de Apoio aos Deficientes (Funad) e Companhia de Processamentos de Dados (Codata), em parceria com a Associação Portugal Brasil 200 anos (APBRA).