Internacional
Debate sobre privilégio de vacinados é descabido
As vacinações mal começaram, e a Alemanha é tomada por uma discussão sobre se os imunizados terão mais regalias que os outros. Controvérsia vem em hora errada, quando mais vale manter a cabeça fria, opina Fabian Schmidt
A campanha de vacinação mal começou na Alemanha, e já existe uma discussão acalorada entre políticos, economistas, jornalistas e outros sobre uma suposta sociedade de duas classes que estaria se formando: seria justificado e justo permitir que pessoas vacinadas façam coisas não permitidas aos não imunizados? E ainda pior: estaríamos talvez ameaçados de ter, indiretamente, uma obrigatoriedade da vacinação se não vacinados forem excluídos da vida pública?
Primeiro, respiremos fundo!
Podemos nos poupar desse debate todo pelo menos até meados de 2021, se considerarmos a atual realidade: a primeira mulher a ser vacinada na Alemanha tem 101 anos. Ela é um símbolo vivo das prioridades da estratégia alemã de vacinação.
A ideia principal é proteger aqueles que correm risco especial se contraírem o coronavírus: os muito idosos e pessoas com doenças preexistentes.
Por isso, o governo alemão estipulou que as pessoas com mais de 80 anos devem ser imunizadas primeiro, junto com profissionais do setor médico e cuidadores de idosos, que têm alto risco de infecção. Em seguida, vêm os maiores de 70 anos e outros grupos de alto risco. O terceiro grupo é o dos maiores de 60 anos, policiais e outras categorias profissionais.
Mesmo que tudo corra como planejado, a maioria dos jovens não conseguirá se vacinar antes do segundo semestre de 2021.
Discutir já agora se os vacinados podem gozar de quaisquer direitos especiais, se isso possivelmente seria algo injusto com os outros ou mesmo caracterizaria uma sutil pressão sobre os céticos da vacina é algo completamente descabido.
Septuagenários hiperativos?
Provavelmente não haverá muitas pessoas com mais de 70 anos que sentirão uma forte ânsia de tomar um banho de lama na meca dos metaleiros alemães em Wacken, de acampar com roqueiros no Rock am Ring ou se esgoelar nas arquibancadas da Bundesliga.
O número de idosos e doentes que em breve serão vacinados e que já planejam voos de longa distância dificilmente será suficiente para convencer uma companhia aérea a voltar às operações normais. Para trabalhar com lucro, elas também teriam que transportar pessoas não vacinadas.
Somente um teste de coronavírus negativo poderia oferecer uma solução para o problema. Como alternativa, organizadores de eventos as companhias aéreas poderiam introduzir a apresentação de um comprovante de vacinação, mas isso não pode e não será o único pré-requisito para a participação na vida social.
Linhas aéreas dependem de clientes
A companhia aérea australiana Quantas não será economicamente capaz de sustentar por muito tempo sua determinação de aceitar apenas pessoas vacinadas em seus voos. Simplesmente não há vacina suficiente para isso em um futuro próximo. E também não pode ser do interesse de empresas excluir clientes – especialmente em tempos em que estes são raros.
E os restaurantes? Estes certamente não podem se dar ao luxo de recusar fregueses que não tenham um atestado de vacinação. Eles também não pedirão a apresentação de testes de coronavírus, que custam mais que uma refeição e uma cerveja juntos. Eles só podem esperar que, em algum momento, quando os números de infecção baixarem novamente, possam recomeçar de onde pararam antes do lockdown, nas condições de higiene já testadas e comprovadas.
Em vez de quebrarmos a cabeça, hiperventilando e especulando com hipóteses insanas, devemos inspirar e expirar profundamente. Precisamos de fôlego para superar o que ainda está por vir. A tão desejada normalidade não retornará assim tão rapidamente.
E o que acontecerá a partir do segundo semestre do próximo ano – isso é coisa que ainda não vivenciamos. E para que possamos vivenciá-lo, continua valendo: lavem as mãos! Mantenham distância! Usem máscara!