ECONOMIA
Governo cria guerra de narrativas com corte de gastos
Na semana passada, foi anunciado o tão esperado pacote de corte de gastos. Já prevendo que ele decepcionaria o mercado, o governo brasileiro misturou assuntos completamente diferentes, na tentativa de se esquivar das críticas que receberia.
Para criar uma “guerra de narrativas”, Fernando Haddad, ministro da Fazenda, também anunciou, no mesmo dia, a ampliação da isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil.
A estratégia do petista de apresentar as medidas simultaneamente chamou atenção e gerou reações adversas do mercado financeiro. Os desdobramentos disso estão no novo episódio do podcast Ligando os Pontos, com Marcos de Vasconcellos, CEO do Monitor do Mercado.
Reação ao pacote de corte de gastos
O pacote prevê um impacto de R$ 71 bilhões em dois anos, segundo o governo. No entanto, o BTG Pactual estima que o verdadeiro corte de gastos será de apenas R$ 46 bilhões. Após o anúncio, o dólar subiu, atingindo R$ 6,11, enquanto a Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, caiu cerca de 4% em dois dias.
Segundo analistas, esses movimentos refletem a preocupação dos investidores com a efetividade do pacote e com o cumprimento do arcabouço fiscal — conjunto de regras que estabelece limites para os gastos públicos.
IR e taxação dos mais ricos
Hoje, a isenção atinge quem recebe até R$ 3,5 mil mensais. Com a ampliação para R$ 5 mil, o governo brasileiro pretende compensar a perda com a taxação dos mais ricos, que possuem rendas mensais acima de R$ 50 mil.
Tentativa de criar uma “guerra de narrativa”
Apresentar as duas medidas juntas foi interpretado por analistas como uma tentativa de minimizar as críticas ao pacote de gastos. Ao unir propostas distintas, o governo gerou debates sobre quem é “contra o povo”, desviando o foco da análise técnica das contas públicas.
Em nota oficial, o Partido dos Trabalhadores (PT) criticou os “rentistas” — termo usado de forma pejorativa para descrever investidores que aplicam em títulos do Tesouro Nacional. Contudo, dados do Tesouro apontam que os fundos de investimento nacionais, principais alvos dessas críticas, detêm 21,5% da dívida pública federal.
Conforme levantamento do Monitor do Mercado, nos últimos 10 anos houve um aumento do volume captado pelo governo com a emissão de títulos públicos, enquanto a participação dos estrangeiros no Tesouro segue no sentido contrário, com uma redução significativa.
Em dezembro de 2014, o estoque de títulos era de R$ 2,1 trilhões e hoje é de R$ 6,6 trilhões. Corrigindo o valor de dez anos atrás pela inflação (IPCA), hoje o total seria de R$ 4,3 trilhões. Por outro lado, a participação dos estrangeiros no Tesouro, que na época era de 18,6%, hoje se limita a apenas 10%.
Fonte: Monitor do Mercado