Internacional
Ministro alemão defende uso de vacinas da Rússia e China
Titular da Saúde diz que imunizantes poderiam ser utilizados para suprir déficit de doses enfrentado na Europa. Ele ressalta, porém, que uso depende de aprovação de agência europeia
O ministro da Saúde da Alemanha, Jens Spahn, afirmou neste domingo (31/01) que as vacinas contra a covid-19 desenvolvidas na Rússia e China poderiam ser usadas na Europa para suprir o atual déficit de doses que o bloco enfrenta.
“Não importa o país em que a vacina foi desenvolvida se ela é segura e eficaz. Assim, elas podem evidentemente ajudar no combate à pandemia”, afirmou Spahn ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung.
O ministro ressaltou, porém, que, para o uso no bloco, esses imunizantes precisam ser aprovados pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA), órgão da União Europeia (UE) que avalia pedidos de registro de medicamentos e vacinas. Ele disse ainda que não vê obstáculos fundamentais para a utilização de vacinas da China e da Rússia.
Moscou anunciou na sexta que tem capacidade para fornecer até 100 milhões de doses da Sputnik V à União Europeia no segundo trimestre deste ano, o que permitiria a imunização de 50 milhões de pessoas.
Na entrevista, Spahn afirmou também ter esperança de que a pandemia seja controlada no decorrer deste ano e de que não haja “um segundo aniversário do coronavírus nessa forma”.
A falta de doses de vacinas deve ser um dos temas da reunião marcada para segunda-feira entre a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, e os governadores do país, que debaterá a situação da pandemia.
Atualmente, a União Europeia tem empregado as vacinas das vacinas criadas pela Pfizer-Biontech e pela Moderna na sua campanha de vacinação. O bloco aprovou ainda na semana passada o imunizante da AstraZeneca-Oxford.
Escassez de vacinas
Os comentários do ministro sobre as vacinas chinesa e russa surgem dias após ele ter admitido que a Alemanha enfrenta atualmente uma escassez de imunizantes que pode durar até abril. Em redes sociais, Spahn disse que o governo alemão terá dificuldades em obter doses suficiente nos próximos meses.
“Ainda teremos pelo menos dez semanas difíceis com a escassez de vacinas”, escreveu Spahn em sua conta no Twitter na quinta.
No início da semana, em entrevista à DW, o ministro disse que a UE precisava garantir sua “parcela justa” de doses e defendeu que o bloco deveria impor um sistema de licença de exportação para barrar a saída de imunizantes.
Nesta sexta, a União Europeia estabeleceu um mecanismo que lhe permite controlar – e na prática bloquear – a exportação de vacinas para covid-19 produzidas em seu território. A decisão foi criticada pela Organização Mundial de Saúde.
A decisão é tomada em meio à queda de braço entre o bloco europeu e a gigante farmacêutica britânico-sueca AstraZeneca, que desenvolveu sua vacina contra a covid-19 em parceria com a Universidade de Oxford.
As autoridades europeias acusam a empresa, com quem firmaram um contrato, de não entregar as doses prometidas, ao mesmo tempo que cumpre seus prazos selados com o Reino Unido.
Dúvidas sobre as vacinas chinesa e russa
Há dúvidas sobre a segurança e eficácia de vacinas chinesas e russa, que foram aprovadas em seus países de origem antes da conclusão dos testes.
A Rússia foi o primeiro país a aprovar o uso de uma vacina, em agosto. A aprovação ocorreu antes mesmo da conclusão da terceira fase de testes clínicos, o que foi criticado por especialistas internacionais. As autoridades russas disseram que a eficácia da Sputnik V é de 92%, mas não há estudos independentes que confirmem esse percentual.
Já a China aprovou a vacina desenvolvida pela farmacêutica estatal Sinopharm, um dia depois de anunciar que os dados iniciais da fase final de teste indicaram uma eficácia do produto era de 79,3%.
Tanto o imunizante da Sinopharm quanto a Sputnik V já foram aprovados pela agência reguladora da Hungria, ignorando a intenção dos países europeus de tomar decisões conjuntas sobre o tema.
No Brasil, vacina chinesa aprovada foi a desenvolvida pela farmacêutica Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso emergencial do imunizante após a conclusão da fase final de testes que foi realizada no país.
Nesses testes, a Coronavac obteve uma eficácia geral de 50,38%. O índice indica a capacidade da vacina de proteger contra todos os casos da doença, independente da gravidade.