Internacional
Maior envolvimento internacional em Cabo Delgado em 2021?
Observatório que monitoriza a violência armada mundial prevê mais envolvimento internacional no conflito na província de Cabo Delgado, em Moçambique, onde os ataques continuam e irão mesmo intensificar-se este ano.
No relatório anual do Armed Conflict Location & Event Data Project (ACLED), os ataques de grupos armados na província moçambicana de Cabo Delgado surgem entre os 10 conflitos a seguir em 2021, a par da Etiópia, Índia e Paquistão, Myanmar, Haiti, Bielorrússia, Colômbia, Arménia e Azerbaijão e Iémen.
“Em 2021, a ausência de uma estratégia de viragem sustentada sugere que uma campanha de ataques incessantes continuará e que as forças do Estado se limitarão a conter os focos de violência sem conseguir diminuir a capacidade dos insurgentes”, aponta o ACLED.
Os peritos do observatório acreditam que os grupos armados irão continuar a “testar os limites geográficos das suas operações, incluindo com novas incursões na vizinha Tanzânia”, na sequência das já realizadas em 2020.
Ataques “mais sofisticados”
De acordo com o ACLED, os ataques, que passaram a ser reivindicados pelo grupo jihadista Estado Islâmico, estão “cada vez mais sofisticados” e a sua combinação com um número crescente de deslocados internos, surtos de cólera e a pandemia de covid-19, “expuseram as limitações do governo no combate eficaz ao agravamento da insegurança”.
O Observatório, estima, por isso, que o Governo continue “a depender fortemente das forças de segurança privadas e cada vez mais de milícias locais de autodefesa para aumentar as suas capacidades” de resposta.
O ACLED aponta como “provável um maior envolvimento internacional no conflito, incluindo uma potencial mudança na relutância do Governo moçambicano em aceitar apoio militar direto”.
Países com interesses sob pressão
A análise sublinha que o sucesso dos ataques colocou o Governo moçambicano “sob pressão de vários países”, nomeadamente daqueles com interesses na exploração dos recursos naturais da província, que reclamam “a intensificação de uma resposta de segurança”.
O ACLED recorda que vários países ofereceram apoio, incluindo Portugal e os Estados Unidos, e adianta que Moçambique também estará em conversações com a França para o estabelecimento de um acordo de cooperação marítima para reforçar a segurança costeira.
“A França está bem posicionada para dar o seu apoio, com uma base naval localizada no seu território insular de Mayotte, no Canal de Moçambique”, aponta o ACLED.
A violência armada em Cabo Delgado está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 560 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.