Internacional
Alemanha poderá ter menos liberdades para não vacinados
Pessoas não imunizadas poderão ser proibidas de entrar em locais como bares, cinemas e estádios esportivos, alertou Helge Braun, principal assessor da chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel
O principal assessor da chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, alertou neste domingo (25/07) que as pessoas não vacinadas poderão ter menos liberdade do que aquelas que decidiram receber o imunizante contra o coronavírus.
Helge Braun, chefe de gabinete de Merkel, disse ao jornal Bild am Sonntag que as pessoas não vacinadas poderão ser proibidas de entrar, por exemplo, em bares, cinemas ou eventos esportivos.
Segundo ele, o início de uma quarta onda do coronavírus “não seria sem consequências”.
“Se tivermos uma alta taxa de infecção, apesar de nossos procedimentos de teste, os não vacinados terão que reduzir seus contatos”, afirmou o político da União-Democrata Cristã (CDU), o partido de Merkel.
“Isso pode significar que certas opções como restaurantes, cinemas e visitas a estádios, mesmo para pessoas não vacinadas que foram testadas, não seriam mais possíveis, porque o risco para todos os outros é muito alto”, explicou Braun, que é médico
Atualmente, na Alemanha, se a incidência de covid-19 ultrapassa determinados índices – que variam conforme o estado – podem ser exigidos testes negativos para ingressar em certos lugares e participar de eventos, mesmo que ao ar livre.
Braun acredita que outro bloqueio nacional total pode ser evitado na Alemanha se as vacinas se mostrarem eficazes contra a variante delta, que se espalha pelo país. Ele exortou aqueles que ainda não receberam o imunizante a fazê-lo.
“A vacinação protege 90% de uma infecção grave por coronavírus”, afirmou. “E aqueles que estiverem vacinados definitivamente terão mais liberdade do que aqueles que não estiverem”, acrescentou.
Os comentários de Braun vão além das últimas observações de Merkel sobre o assunto. Na quinta-feira, a chanceler se limitou a dizer que “quanto mais pessoas vacinadas, mais livres seremos novamente”.
Até 100 mil casos por dia
Com a variante delta se espalhando, Braun teme que a incidência do covid-19 na Alemanha possa chegar a 850 casos a cada 100 mil habitantes em sete dias até a eleição para o Bundestag, marcada para 26 de setembro. Isso representaria mais de 100 mil novas infecções por dia. Nos piores momentos da pandemia, a Alemanha chegou a registrar um máximo de 30 mil infecções diárias.
Neste domingo, a Alemanha registrou 1.387 novas infecções, de acordo com o Instituto Robert Koch, agência governamental para o controle e prevenção de doenças. A taxa de incidência é de 13,8 casos por 100 mil habitantes em sete dias – em 6 de julho, a incidência era de apenas 4,9. Os casos aumentam,sobretudo, entre os jovens.
Braun também defende que se a incidência continuar a aumentar será muito difícil manter as infecções fora das escolas. “É por isso que está muito claro para mim: pais, professores, zeladores e motoristas de ônibus escolar têm que se vacinar. Se esses grupos forem todos vacinados, o risco para as crianças é menor”, afirmou.
Além disso, segundo ele, a obrigatoriedade de máscara deve continuar em ônibus e trens públicos e nas escolas, onde a distância e a ventilação são insuficientes.
Opiniões divididas
A proposta de exigir um passe sanitário para entrar em diversos locais divide opiniões na Alemanha. Contrários à medida argumentam que haveria uma divisão da sociedade, com privilégios para os vacinados, o que contraria a política de direitos iguais para todos.
Quando questionado se isso seria legalmente permitido, Braun respondeu que sim. De acordo com ele, o Estado tem o dever de proteger a saúde dos cidadãos.
“Isso inclui um sistema de saúde que não tenha que adiar tratamento de câncer ou cirurgias novamente no inverno para tratar pacientes com coronavírus. E isso inclui proteger aqueles que não foram vacinados”, justificou.
O movimento pela vacinação obrigatória também começa a ganhar mais adeptos. O governador de Baden-Württemberg, Winfried Kreschmann, disse que considera a vacinação obrigatória. “É possível que surjam variantes que tornem isso necessário”, afirmou o político do Partido Verde. Para ele, não está descartado que “em algum momento” só seja permitida “certas áreas e atividades para pessoas vacinadas”.
Por outro lado, o governador da Renânia do Norte-Vestfália e candidato a chanceler pela CDU, Armin Laschet, acredita que ainda é muito cedo para falar em obrigatoriedade de vacina. Para ele, a prioridade agora deve ser convencer o maior número possível de cidadãos a se vacinarem.
“Em um estado livre, há direitos de liberdade não apenas para certos grupos”, enfatizou Laschet em entrevista ao canal de televisão ZDF.
Laschet acredita que o esquema de testes, de recuperados da doença e de vacinados vem funcionando bem. “Se percerbermos no outono [primavera no Brasil] que a taxa de vacinação ainda está muito baixa, acho que então teremos que pensar mais. Mas não agora”, disse o político.
Vacinação na Alemanha
A Alemanha não enfrenta escassez de vacinas e, atualmente, os centros de imunização estão abertos a todos adultos que queiram se vacinar, em muitos lugares sem ao menos exigir um agendamento. Além disso, o médicos seguem imunizando seus pacientes nos consultórios. No entanto, os dados indicam uma redução no ritmo de vacinação desde a metade do mês passado.
Pouco mais de 60% dos adultos alemães receberam ao menos uma dose de vacinas contra a covid-19 e 48% estão completamente vacinados, de acordo com a plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford.
Exigências em outros países
Desde quarta-feira a França passou a exigir a apresentação de um passe sanitário a todos aqueles que desejem acessar cinemas, teatros, museus e qualquer evento ou espetáculo, cultural ou esportivo, que reúna mais de 50 pessoas.
O documento traz um código QR que, ao ser escaneado na entrada do estabelecimento, informa se a pessoa está completamente vacinada contra a covid-19, se teve a doença nos últimos seis meses ou se tem um teste negativo para o coronavírus feito nas últimas 48 horas. As medidas geraram protestos no país por parte de grupos que argumentam que as regras são um ataque às liberdades civis.
A Itália também deve introduzir um passe sanitário semelhante a partir de 6 de agosto.
Israel também decidiu reintroduzir um esquema semelhante em meio à preocupação com o aumento de infecções da variante delta.
Após declarar o fim de todas as restrições, o Reino Unido admitiu na semana passada que poderá pedir a partir de setembro comprovação de vacinação para a entrada, por exemplo, em casas noturnas.