Internacional
Oposição na Hungria define candidato único para enfrentar Orbán em 2022
Processo de prévias inédito no país escolheu político conservador que era o mais bem posicionado nas pesquisas contra o atual primeiro-ministro. Candidata da esquerda reconhece derrota e pede que oposição siga unida
Seis partidos da oposição na Hungria concluíram neste domingo (17/10) um processo de prévias unificadas para escolher o candidato que desafiará o primeiro-ministro ultranacionalista Viktor Orbán na próxima eleição nacional, em abril de 2022.
O vitorioso foi o conservador Peter Marki-Zay, que superou no segundo turno das prévias a esquerdista Klara Dobrev, do partido Coalizão Democrática e vice-presidente do Parlamento Europeu.
Com 60% dos votos apurados na noite deste domingo, Marki-Zay tinha recebido 58% dos votos. Antes da conclusão da apuração, Dobrev parabenizou Marki-Zay, prometeu se empenhar para apoiá-lo e pediu que a oposição siga unida.
“Queremos uma Hungria nova, mais limpa e honesta, e não apenas substituir Orbán ou seu partido”, disse Marki-Zay em seu discurso de vitória das prévias. “De agora em diante, apoio Peter Marki-Zay”, afirmou Dobrev.
A aliança entre as seis legendas foi criada no ano passado, em uma estratégia para unir forças contra Orbán e seu partido Fidesz, que domina o Parlamento húngaro desde 2010 e é beneficiado pelo sistema eleitoral de turno único.
É a primeira vez que a Hungria realiza prévias para a escolha de candidatos. O processo que envolveu os seis partidos da aliança de oposição foi realizado em dois turnos. O primeiro havia ocorrido em setembro.
Além de definir quem irá liderar a aliança de oposição, as prévias escolheram candidatos comuns em cada um dos 106 distritos eleitorais do país para enfrentar o Fidesz.
Pesquisas mostram disputa acirrada
Pesquisas de opinião têm apontado empate entre a aliança de oposição e o Fidesz, e indicaram que Marki-Zay tinha mais chances do que Dobrev para derrotar Orbán em 2022.
Marki-Zay tem 49 anos e ganhou projeção em 2018, quando foi eleito prefeito de Hódmezöváráshely, uma pequena cidade que costumava ser reduto eleitoral do Fidesz. Católico, ele tem sete filhos e é formado em economia, marketing e engenharia.
Durante a campanha nas prévias, Marki-Zay buscou se apresentar como uma escolha palatável tanto para os eleitores de esquerda como para os conservadores, e disse que Dobrev não teria chances de derrotar Orbán. A candidata da esquerda é esposa do ex-primeiro-ministro húngaro Ferenc Gyurcsany, cujo legado divide a política local.
Marki-Zay havia ficado em terceiro lugar no primeiro turno das prévias, mas conseguiu convencer o primeiro colocado – o atual prefeito de Budapeste, o liberal Gergely Karacsony – a abrir mão da disputa e apoiá-lo no segundo turno contra Dobrev.
“Ela [eleição] é sobre se seremos livres. Sobre se a Hungria seguirá sendo um país europeu ou se irá afundar. Se irá se perder e se voltar ao leste, tornando-se uma ditadura corrupta”, disse Marki-Zay em uma coletiva de imprensa na semana passada.
Imagem conservadora funcional contra Fidesz
A imagem de pai de família e católico de Marki-Zay tem aderência com a ideologia promovida por Orbán, e torna mais difícil para o Fidesz a tarefa de atacá-lo.
O partido de Orbán, que promove políticas anti-imigração e contra direitos LGBT, vinha tentando colar nos candidatos de esquerda a imagem de marionetes de Gyurcsany.
Marki-Zay prometeu colocar na cadeia os responsáveis pelo que ele descreveu como “roubo dos cofres públicos” e realizar um referendo para alterar a Constituição promulgada por Orbán em 2011. Ele também quer anular leis que ajudaram a consolidar o poder do atual primeiro-ministro, restaurar a autonomia dos governos locais e adotar o euro como moeda do país.
Segundo os organizadores, cerca de 800 mil pessoas participaram dos dois turnos das prévias, o que equivale a cerca de 10% do eleitorado do país, que tem 9,8 milhões de habitantes e faz parte da União Europeia.