Internacional
Haiti: Gangue sequestra 15 missionários dos Estados Unidos
Religiosos voltavam de visita a orfanato em construção quando foram capturados. Polícia afirma que criminosos pertencem à gangue “400 Mawozo”
Uma gangue acusada pelo sequestro de cinco padres e duas freiras no início do ano no Haiti é agora suspeita de ter sequestrado neste sábado (16/10) 15 missionários de uma organização dos Estados Unidos e dois de seus familiares, incluindo uma criança de 2 anos de idade, disse a polícia haitiana neste domingo.
A gangue conhecida como “400 Mawozo” sequestrou o grupo, que também inclui alguns idosos, em Ganthier, uma comunidade a leste da capital, Porto Príncipe, disse a autoridade policial Frantz Champagne.
A quadrilha, cujo nome pode ser traduzido como “os 400 homens inexperientes”, controla a área de Croix-des-Bouquets, que inclui Ganthier, onde realizam sequestros e roubos de carros e extorquem proprietários de empresas, de acordo com as autoridades.
Os missionários foram capturados quando estavam a caminho de casa no sábado, após terem ido ao local de construção de um orfanato, segundo uma mensagem da organização Christian Aid Ministries, sediada em Ohio, enviada a várias missões religiosas. “Este é um alerta especial de oração”, dizia a mensagem. “Orem para que os membros da gangue venham ao arrependimento”.
A mensagem diz que o diretor da organização no Haiti está em contato com a embaixada americana, e que a família do diretor e um outro homem não identificado permaneceram na sede do ministério enquanto todos os outros visitavam o orfanato.
Um porta-voz do governo dos EUA disse que as autoridades estariam cientes dos relatos sobre o sequestro. “O bem-estar e segurança dos cidadãos americanos no exterior é uma das maiores prioridades do Departamento de Estado”, disse o porta-voz, sem oferecer mais detalhes.
Um alto funcionário americano, falando sob condição de anonimato, disse que os Estados Unidos estão em contato com as autoridades haitianas para resolver o caso. As gangues exigiram resgates que vão de algumas centenas de dólares a mais de um milhão de dólares, de acordo com as autoridades.
Sequestros em alta
Em setembro, um diácono foi morto em frente a uma igreja em Porto Príncipe, e dezenas de pessoas foram sequestradas recentemente no Haiti.
Pelo menos 328 vítimas de sequestro foram registradas pela Polícia Nacional do Haiti nos primeiros oito meses de 2021, em comparação com um total de 234 em todo o ano de 2020, de acordo com um relatório divulgado em setembro pelo escritório das Nações Unidas no Haiti, conhecido pela sigla Binuh.
As gangues são acusadas de sequestrar crianças em idade escolar, médicos, policiais, ônibus carregados de passageiros e outros, enquanto se tornam mais poderosas. Em abril, um homem que afirmou ser o líder da quadrilha dos “400 Mawozo” disse a uma emissora de rádio que eles seriam os responsáveis pelo sequestro de cinco sacerdotes, duas freiras e três parentes de um dos sacerdotes naquele mês. Eles foram libertados mais tarde.
Um protesto está programado para segunda-feira para denunciar a falta de segurança no país.
“A turbulência política, o aumento da violência das gangues, a deterioração das condições socioeconômicas, incluindo a insegurança alimentar e a desnutrição, contribuem para o agravamento da situação humanitária”, disse o Binuh em seu relatório. “Uma força policial sobrecarregada e com poucos recursos não pode enfrentar sozinha os males de segurança do Haiti.”
Na sexta-feira, o Conselho de Segurança da ONU votou por unanimidade a extensão da missão política da ONU no Haiti.
O sequestro dos missionários ocorreu poucos dias depois de oficiais americanos de alto escalão terem visitado o Haiti e prometido mais recursos para a Polícia Nacional do país, incluindo mais 15 milhões de dólares para ajudar a reduzir a violência das gangues.
Entre as autoridades americanas que se reuniram com o chefe de polícia do Haiti, estava Uzra Zeya, subsecretária de Estado para a segurança civil, democracia e direitos humanos. “O desmantelamento de gangues violentas é vital para a estabilidade e a segurança dos cidadãos haitianos”, ela postou no Twitter recentemente.