Internacional
Na COP26, ONU pressiona líderes a “salvarem a humanidade”
Na abertura da cúpula em Glasgow, chefe das Nações Unidas diz que é hora de dizer “basta” ao desastre climático. “Ou paramos ele, ou ele nos para. Estamos cavando nossas próprias covas”, afirma Guterres
Na abertura da Conferência da ONU sobre as Mudanças Climáticas (COP26) nesta segunda-feira (01/11), o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pressionou os líderes mundiais a tomarem ações concretas para “salvar a humanidade” e proteger o planeta da crise do clima.
Sem o brasileiro Jair Bolsonaro, mais de 120 chefes de Estado e de governo estão reunidos em Glasgow, na Escócia, para a cúpula climática de dois dias, que seus organizadores dizem ser crucial para traçar um caminho que não leve a um aquecimento global catastrófico.
“Ao abrirmos esta tão esperada conferência sobre o clima, ainda estamos caminhando para um desastre climático. Os jovens sabem disso. Cada país vê isso. Pequenos Estados insulares em desenvolvimento – e outros vulneráveis – vivem isso. Para eles, o fracasso não é uma opção. O fracasso é uma sentença de morte”, declarou Guterres.
“Ou paramos [esse desastre], ou ele nos para. E é hora de dizer ‘basta’. Basta de brutalizar a biodiversidade. Basta de nos matarmos com carbono. Basta de tratar a natureza como um banheiro. Basta de queimar, perfurar e minerar nosso caminho mais a fundo. Estamos cavando nossas próprias covas”, continuou o português, reforçando sua reputação de ser um dos maiores defensores de ações urgentes pelo clima.
Guterres disse ainda que, se os governos mundiais fracassarem em apresentar compromissos ambiciosos na COP26, eles terão que retornar anualmente com promessas melhoradas, em vez dos atuais cinco anos acordados anteriormente.
“Não tenhamos ilusões: se os compromissos forem insuficientes até o final desta COP, os países deverão rever seus planos e políticas climáticas nacionais. Não a cada cinco anos, mas todos os anos, até que possamos garantir o nível de 1,5 °C [de aquecimento global, ante os níveis pré-industriais]. Até que os subsídios aos combustíveis fósseis acabem, até que haja um preço para o carbono, e até que o carvão seja eliminado”, disse.
O chefe da ONU também defendeu a importância de um financiamento anual bilionário para apoiar medidas climáticas em países de baixa renda, acordado em Paris em 2015.
“O compromisso de financiamento climático de 100 bilhões de dólares por ano em apoio aos países em desenvolvimento precisa se tornar realidade. Isso é fundamental para restaurar a confiança e a credibilidade”, afirmou. “Os que mais sofrem – ou seja, os países menos desenvolvidos e os pequenos Estados insulares em desenvolvimento – precisam de financiamento urgente.”
Ele observou que os países do G20 são responsáveis por 80% das emissões globais de gases de efeito estufa e, portanto, têm uma responsabilidade maior.
Por fim, Guterres declarou apoio ao ativismo climático comandado pelas gerações mais jovens. “O exército da ação climática – liderado por jovens – é imparável. Eles são maiores. São mais barulhentos. E, garanto a vocês, eles não vão desistir”, disse. “Eu estou com eles.”
Johnson: “Se fracassarmos, nossos filhos não nos perdoarão”
Guterres falou logo em seguida ao anfitrião da COP26, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, que em seu discurso também recorreu à retórica de que o mundo caminha para um fim se não agir contra a crise climática.
Segundo ele, o aquecimento global é como um “dispositivo do Juízo Final” amarrado à humanidade, fazendo referência ao agente secreto fictício James Bond, amarrado a um bomba que destruirá o planeta e tentando descobrir como desarmá-la.
A única diferença é que “este não é um filme e o dispositivo do Juízo Final é real”, declarou Johnson. “Falta um minuto para meia-noite nesse relógio do Juízo Final e precisamos agir agora.” A ameaça, segundo ele, é a mudança climática, desencadeada pela queima de carvão, petróleo e gás natural.
“Se fracassarmos, nossos filhos não nos perdoarão. Nos julgarão com amargura e terão razão”, disse o premiê britânico às dezenas de chefes de governo e Estado reunidos em Glasgow.
Ele ainda alertou que um aumento de 2 °C na temperatura global colocaria em risco a distribuição de alimentos; com 3 °C haveria mais incêndios descontrolados e cinco vezes mais secas; e com 4 °C “daremos adeus a cidades como Miami e Alexandria”.
O discurso de Johnson foi o primeiro entre os líderes globais, que apresentarão nesta COP suas estratégias para cumprir com o objetivo de limitar o aquecimento global em 1,5 °C.
Em seguida, os negociadores indicados pelos governos, blocos comunitários, organizações e empresas buscarão fechar, durante as duas próximas semanas, um acordo final para a COP26.
“Estava em Paris seis anos atrás, quando concordamos com as emissões zero e em limitar o aquecimento em 1,5 °C. Mas essas promessas não terão sido mais que ‘blá blá blá’ se não fizermos desta COP o momento de sermos realistas contra a mudança climática”, disse Johnson.
“A COP26 não pode e não será o fim da luta contra a mudança climática, no entanto, embora não seja o fim, deve marcar o início do fim”, completou, pedindo trabalho com criatividade e imaginação dos líderes globais.