Internacional
Venezuela vive maior migração da história moderna do país, diz bispo
Fluxo migratório de 7 milhões de venezuelanos tem menos de uma década, o que reflete a dimensão da tragédia
As estimativas apontam que mais de sete milhões de venezuelanos deixaram o seu país diante da profunda crise econômica que se tem vindo a agravar de ano para ano.
D. Raul Biord, Bispo de La Guaira, esteve na sede internacional da Fundação AIS, em Königstein, na Alemanha, e descreveu um país à beira da ruptura com a Igreja a procurar ajudar os mais pobres, os mais afectados pela crise, sem nunca esquecer todos os que se viram obrigados a deixar a pátria e que se encontram também a atravessar sérias dificuldades.
Tragédia
“O número de Venezuelanos que partiram aproxima-se dos sete milhões. É a maior migração da história moderna do país”, diz D. Raul, sublinhando que este fluxo migratório tem menos de uma década, o que diz bem da dimensão da tragédia que esconde. “A vida de todos os migrantes é sempre difícil e dolorosa. As pessoas não saem do seu país porque querem; fazem-no para fugir da fome, da violência, da guerra, da falta de condições de vida, da perda de expectativas de futuro…”
Quando se fala de crise na Venezuela não há praticamente um sector da sociedade que não esteja envolvido. A hiperinflacção, provavelmente a maior do planeta, agrava ainda mais a fragilidade em que se encontram largas camadas da população. É para os mais pobres dos pobres que a Igreja olha em primeiro lugar.
Igreja
Diz D. Raul Biord que todos estão de mangas arregaçadas prontos a ajudar, a minimizar o sofrimento dos que estão de mãos vazias e tantas vezes já sem esperança. “Padres, religiosos, catequistas, trabalhadores pastorais e voluntários a nível paroquial esforçam-se por estar perto das pessoas, especialmente dos mais pobres. A Igreja está empenhada, nas várias dioceses e paróquias, em ajudar os mais necessitados através de diferentes programas alimentares para crianças carenciadas e idosos…”
É um verdadeiro programa de assistência social. Não há tempo a perder, todos estão mobilizados nesta gigantesca tarefa de salvar vidas, de dar esperança, de estender a mão aos que precisam mais de ajuda. “Há também muitas sopas dos pobres em muitos lugares, paróquias, centros de saúde [da Igreja], onde milhares de voluntários ajudam os mais vulneráveis todos os dias. Uma das tarefas mais importantes é manter a esperança viva, como fez a Virgem Maria no sopé da cruz. Sabemos que o bom Senhor não pode abandonar-nos na nossa hora de necessidade, que ele está aqui, e que ele não nos deixará sozinhos.”
Obstáculos
Apesar das relações por vezes tensas com as autoridades e dos “obstáculos”, o Bispo de Guaira diz que a Igreja “tem suficiente liberdade de acção”. E tem, seguramente, muita vontade de agir. As palavras do Bispo são um sinal de compromisso, de quem não desiste de ajudar, de quem não fecha os olhos ao sofrimento de um povo. “Estamos aqui para servir o povo, especialmente os mais pobres. O nosso papel e compromisso são agir como uma presença que possa trazer luz à situação, inspirada no Evangelho. O melhor contributo que podemos dar ao país é um verdadeiro discernimento baseado nos princípios da doutrina social da Igreja. Por vezes, tal voz pode perturbar membros do governo ou da oposição, ou diferentes grupos económicos e sociais, mas a profecia não pode manter-se calada.”
A Igreja tem sido um porto de abrigo num país que se desmorona quase de dia para dia. Talvez isso ajude a explicar que há cada vez mais jovens a procurarem seguir a vida religiosa. É um sinal de esperança em tempos de trevas. “No meio de tanto sofrimento, novas vocações sacerdotais floresceram, como um dom de Deus. Muitos jovens estão a responder positivamente ao apelo de Deus para serem pescadores de homens e semeadores de esperança. No seminário da minha diocese, La Guaira, este ano há 56 seminaristas de várias dioceses, especialmente da província de Caracas.”
Pobres
A Igreja da Venezuela pede ajuda para poder continuar a ajudar, para poder continuar a ser o amparo dos que mais sofrem, dos mais pobres, dos doentes, dos marginalizados. O Bispo de Guaira aproveitou a passagem pela sede internacional da Fundação AIS para apelar à generosidade das “igrejas irmãs dos outros países”, para não se esquecerem da Venezuela.
“Não nos abandonem”, diz o prelado. “Que através de orações e assistência, se lembrem daqueles que mais sofrem, e ajudem os pobres a satisfazer as suas necessidades materiais, como a alimentação, saúde, educação, formação profissional, bem como as suas necessidades espirituais.”