Internacional
Itália suspende voos do Brasil devido à nova variante do coronavírus
País é o segundo na Europa a vetar viajantes do território brasileiro. “Optamos pela máxima prudência”, diz ministro italiano, em meio a temores de que cepa originária do Amazonas possa estar por trás do caos no estado
A Itália anunciou neste sábado (16/01) que decidiu suspender os voos vindos do Brasil e proibir a entrada de passageiros que tenham passado pelo país nos últimos 14 dias, devido a preocupações com uma nova variante do coronavírus originária do Amazonas.
“É fundamental que nossos cientistas possam estudar a nova variante com profundidade. Nesse meio tempo, vamos escolher o caminho da máxima prudência”, escreveu em rede social o ministro da Saúde italiano, Roberto Speranza, que assinou a medida.
Ele também informou que pessoas que chegaram recentemente em território italiano vindas do Brasil devem entrar em contato com as autoridades de saúde e realizar o teste.
A decisão torna a Itália o segundo país europeu a proibir viajantes do Brasil devido à nova cepa, depois de o Reino Unido ter aplicado um veto similar nesta sexta-feira. O governo britânico, contudo, foi mais abrangente e proibiu também passageiros de todos os países sul-americanos, além de Cabo Verde, Panamá e Portugal, devido às suas ligações de viagem com o Brasil.
A primeira onda da covid-19 na Itália, em 2020, foi uma das mais dramáticas do mundo. Atualmente, o país de 60 milhões de habitantes registra uma média de 475 mortes por dia, e as infecções também voltaram a crescer, numa segunda onda que atinge todo o continente.
A Itália soma hoje mais de 81 mil óbitos ligados ao coronavírus, o segundo maior número absoluto da Europa e o sexto maior do planeta, e mais de 2,3 milhões de casos confirmados.
Assim como o resto da União Europeia (UE), o país se esforça agora para imunizar sua população. O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, anunciou na sexta-feira que 1 milhão de pessoas já receberam a primeira dose da vacina, quase todas profissionais de saúde. Segundo o premiê, o número é o maior entre os integrantes da UE.
Variante amazonense
A variante brasileira foi anunciada pelo governo japonês no domingo passado, após ter sido identificada em quatro passageiros que estiveram no Amazonas e desembarcaram no aeroporto internacional de Tóquio em 2 de janeiro.
Entre os infectados, um homem na faixa de 40 anos foi hospitalizado com dificuldade para respirar, uma mulher em torno dos 30 anos teve dores de cabeça e garganta, enquanto um garoto com menos de 18 anos desenvolveu febre. A quarta passageira, uma menina também menor de idade, não apresentou sintoma.
Na terça-feira, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) confirmou a identificação e a circulação da nova cepa originária do Amazonas. Segundo o escritório da Fiocruz no estado, as amostras registradas podem ter evoluído de uma linhagem viral que circula na região desde abril de 2020.
Já na quarta-feira, o Amazonas confirmou o primeiro caso de reinfecção pelo coronavírus no estado, causada justamente pela nova variante. A paciente é uma mulher de 30 anos residente em Manaus que já se recuperou da doença, segundo autoridades amazonenses.
A nova cepa é diferente das identificadas no Reino Unido e na África do Sul, que são mais contagiosas e já estão se espalhando por outros países.
Contudo, a variante brasileira possui 12 mutações, sendo três delas iguais a mutações encontradas nas variantes britânica e sul-africana, “que podem impactar a transmissibilidade e a resposta imune do hospedeiro”, informou a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A entidade disse que foi notificada pelo Japão sobre a nova variante em 9 de janeiro. Ela chamou a cepa de “preocupante” e observou que mais análises são necessárias.
“Quanto mais o vírus Sars-Cov-2 se espalha, mais oportunidades ele tem de mutar. Altos níveis de transmissão significam que devemos esperar o surgimento de mais variantes”, declarou a organização na quarta-feira.
O Amazonas, duramente atingido pela primeira onda de covid-19 no ano passado, enfrenta atualmente uma segunda onda dramática e alarmante, com explosão de infecções e internações, superlotação de cemitérios e o sistema de saúde colapsado. Hospitais chegaram a ficar sem oxigênio para os pacientes, e vários morreram sem ar. Alguns estão sendo transferidos para outros estados. Alguns cientistas acreditam que a nova variante pode estar por trás do caos no Amazonas.
A taxa de mortalidade por grupo de 100 mil habitantes no estado é atualmente de 145,8 – a terceira mais alta do país, ficando atrás somente do Rio de Janeiro e do Distrito Federal.