AGRICULTURA & PECUÁRIA
Cana-de-açúcar é matéria-prima de “plástico verde” sustentável
A substância, fabricada em larga escala, substitui o polietileno e alavanca a produção de empresas de embalagens no Brasil, que optam pelo uso de produtos que contribuem para a preservação do meio ambiente
Uma nova alternativa sustentável surge para substituir o polietileno derivado de fontes não-renováveis na produção plásticos e embalagens. É o “eteno verde” – ou “plástico verde” – obtido a partir do etanol da cana-de-açúcar e produzido em larga escala comercial desde o final de 2010 pela Braskem, uma empresa 100% brasileira, em sua fábrica de Triunfo, Rio Grande do Sul. Ao contrário do polietileno, em cuja produção é usado petróleo – um recurso esgotável e com grande potencial poluidor, com emissões de gases do efeito estufa – o processo de fabricação do plástico verde captura até 2,5 toneladas de CO² da atmosfera em cada tonelada produzida.
Versátil e renovável
Desenvolvido pela Braskem em 2007, o polietileno verde, de fonte 100% renovável, representou uma nova fase na cadeia produtiva do plástico. Versátil, este biopolímero possui as mesmas propriedades e possibilidades de uso da resina produzida com matéria-prima não renovável. Assim, a indústria de manufaturados plásticos não precisa fazer investimentos em novos equipamentos nem alterar o design dos produtos. Por ser um polímero de baixa densidade, diminui o peso final dos produtos, reduzindo o custo de transporte e as conseqüentes emissões de CO².
A primeira empresa a aplicar o polietileno verde em um produto foi a Brinquedos Estrela, no jogo Banco Imobiliário Sustentável. Coca-Cola, Danone, Johnson & Johnson, Tetra Pack, Natura, a gigante Procter & Gamble, e até a conceituada marca de cosméticos japonesa Shiseido, já estão utilizando o plástico verde em suas embalagens.
Selo Verde
“I’m green” é o selo que permite ao consumidor identificar os produtos manufaturados com o plástico verde da Braskem. Ele foi desenvolvido para ser simples e direto na comunicação e falar ao crescente público que valoriza os produtos com componentes renováveis, aumentando o valor agregado dos produtos e promovendo um futuro mais sustentável.
A balança sustentável do plástico verde mostra que para cada tonelada de polietileno verde produzido são capturados e fixados até 2,5 toneladas de CO² da atmosfera. Outra vantagem é que o plástico verde é 100% reciclável, uma característica importante para um material de alto valor agregado, pois viabiliza sua reutilização inúmeras vezes. O fato de o plástico verde não ser biodegradável faz com que o CO² capturado durante o cultivo da cana-de-açúcar permaneça fixado por todo o período de vida do plástico.
Compromisso
Com o apoio da ProForest, consultoria especializada na gestão responsável de recursos naturais, a Braskem criou um “Código de Conduta para Fornecedores de Etanol”. O objetivo é orientar os produtores quanto aos requisitos socioambientais mínimos necessários para se tornar um fornecedor de etanol da empresa. Entre as exigências estão a não utilização de queimadas e a adoção de outras práticas ambientais, a garantia dos direitos humanos e trabalhistas para os empregados, além do fornecimento de informações para realização de estudos do ciclo de vida do produto.
Bucha vegetal, bananeira e mamoeiro tornam-se embalagens biodegradáveis e anatômicas
Embalagens biodegradáveis e anatômicas para frutas estão sendo desenvolvidas em conjunto pela Embrapa Agroindústria de Alimentos, pelo Instituto Nacional de Tecnologia (INT) e pelo Instituto de Macromoléculas (IMA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na composição das novas embalagens, até 50% do material plástico poderá ser substituído por fibras da bucha vegetal e do pseudocaule de bananeiras e mamoeiros. A ideia é reduzir o passivo ambiental gerado pelo consumo de plásticos nas embalagens, volume que cresce a cada dia, em função da oferta de produtos frescos de qualidade ou minimamente processados e prontos para consumo. Os primeiros protótipos serão testados em parceria com a Braskem – Unidade Polímeros, de São Paulo – para verificar a resistência, o percentual máximo de fibra no compósito plástico, e o custo-benefício da proposta.
Frutas delicadas
As embalagens que serão testadas foram desenvolvidas para frutas como morango, mamão, caqui e manga. São alimentos suscetíveis a impactos e que têm grande perda durante o processo de pós-colheita, embalagem, transporte e oferta ao consumidor. De acordo com o pesquisador Antônio Gomes Soares, da Embrapa, só as perdas no setor de frutas podem chegar a 35% devido às injúrias que inviabilizam a comercialização. “Daí nossa preocupação de não só desenvolver embalagens menos agressivas ao meio ambiente, mas também mais adequadas para a acomodação das frutas”.
Em recente visita às feiras Fruit Logistics e Freshconex, em Berlim (Alemanha), o pesquisador Murillo Freire, também da Embrapa, atestou o grande volume de plásticos usados em embalagens para alimentos frescos e minimamente processados no mercado europeu. Essas feiras atraem 2.400 expositores e mais de 55 mil visitantes interessados em negócios e oriundos de 130 países em cada nova edição. “As empresas no exterior demandam alternativas para embalagens, mas querem soluções já validadas no mercado”, explicou.
Validação
Os testes feitos na Braskem seguirão para um polo frutífero para nova validação e ajuste dos processos de fabricação. A expectativa dos pesquisadores é chegar até o final do ano com embalagens validadas e estimativas de custo-benefício para poder oferecer o projeto de novas embalagens biodegradáveis e anatômicas às empresas do Brasil e do exterior. A iniciativa da Embrapa, do INT e do IMA conta com o apoio financeiro do BNDES.
Embalagens sustentáveis ajudam a reduzir índices de CO²
Estimativas da PricewaterhouseCoopers Ecobilan indicam que se 26 milhões de domicílios usarem sacos de lixo sustentáveis, à base de cana-de-açúcar, é possível economizar mais de 112 mil toneladas de CO², um volume equivalente ao dióxido de carbono emitido pelos veículos da cidade de São Paulo
As embalagens produzidas tendo como matéria-prima o etanol da cana-de-açúcar revolucionaram o mercado em 2011, já que são uma alternativa sustentável às sacolas plásticas distribuídas nos supermercados e no comércio em geral. O uso intensivo dessas sacolas plásticas, para acondicionar e descartar o lixo doméstico, provoca prejuízos em várias áreas. Quando utilizadas como sacos de lixo, provocam desde entupimento de bueiros até o assoreamento de córregos, rios e oceanos, onde podem ser ingeridas por peixes e outros animais marinhos, ao serem confundidas com algas, por exemplo.
Saco de lixo sustentável
A entrada de produtos sustentáveis no mercado trouxe aos consumidores outras alternativas. “Desmitificamos a história de que produto sustentável é muito mais caro, principalmente em relação aos sacos para lixo. Conseguimos fazer com que as embalagens sustentáveis tivessem preço acessível e ainda criamos estratégias em grandes redes de supermercados do país para alertar a população quanto à necessidade de optar por artigos que não agridam a natureza”, comenta Rafael Costa, diretor da Embalixo.
Em 2011, a empresa canalizou seus investimentos nesses produtos, fabricando cerca de 90 milhões de embalagens à base de cana-de-açúcar e comercializando mais de 1.800 toneladas dessas embalagens em todo o Brasil. O resultado foi 40% maior que o obtido pela empresa em 2010, segundo afirma seu diretor Rafael Costa. Para 2012, ele espera dobrar esses números, apostando no começo de uma conscientização da população para a utilização de materiais sustentáveis. “Hoje o consumidor tem opções muito acessíveis e com preço competitivo. Esperamos que no Brasil o hábito de utilizar sacos específicos para o descarte de lixo, como ocorre na Europa, se torne um hábito. Isso irá esquentar o mercado, tornando produtos e preços cada vez mais atraentes, dentro da linha sustentável, além de contribuir com a preservação do meio ambiente”, comenta o diretor.
A partir do eteno verde, a Embalixo, uma empresa de Campinas (SP), fabrica, com exclusividade, o primeiro saco de lixo sustentável à base de cana-de-açúcar. O saco se decompõe mais rapidamente na natureza, tem custo pouco maior que o dos sacos de lixo convencionais e pode ser reciclado. A empresa diversificou sua linha e os produtos sustentáveis incrementaram em 40% o faturamento em 2011.
Reciclagem
Apesar da polêmica em torno do uso de sacolas plásticas que também acabam sendo aproveitadas para descartar lixo, a Embalixo ousou e lançou um produto a partir do plástico reciclado, envolvendo, para isso, cooperativas de catadores. “Foi mais uma ação visando a um produto que contribua para a preservação do meio ambiente, pois a reutilização do plástico é uma forma de retirá-lo da natureza, já que ele demora mais de 200 anos para se decompor. Além disso, achamos interessante apoiar a iniciativas de cooperativas, incentivando que reciclem sacos e sacolas plásticas”, informa Rafael.
A empresa instalou em sua fábrica até mesmo uma máquina de reciclagem de plástico. “Utilizamos as sobras do que nós mesmos produzimos”, afirma. Milhares de pessoas vivem no país como catadores de produtos para a reciclagem, porém, a reciclagem de plástico ainda é muito pequena. O “Embalixo Reciclado” é produzido a partir de sobras de plásticos durante a sua fabricação, conhecidos como pré-consumo, e também de plásticos pós-consumo, como sacolas plásticas, sacos de hortifrutis, filme stretch (muitos utilizados por indústrias para proteger cargas durante transportes) comprados de cooperativas que fazem a coleta seletiva da população e de empresas. O lançamento do produto reforça a importância de reciclagem e do papel da sociedade na separação de materiais para coleta seletiva, geradora de renda e inclusão social dos catadores.
Uso das sacolinhas plásticas de mercado para descartar lixo
Apesar da proibição da distribuição das sacolas plásticas pelos estabelecimentos comerciais – que estava prevista para acontecer até o final deste ano, por meio de lei – ter sido derrubada por ação judicial, a discussão trouxe à tona a importância da opção por produtos sustentáveis e serviu como alerta à população para os prejuízos do uso das sacolinhas comuns.
O fato chamou atenção para outros assuntos importantes a serem discutidos, tais como: reciclagem do lixo (a separação dos materiais: vidro, papel, metal, garrafas pet, plástico e outros – que podem ser reciclados); o problema do uso do plástico (que demora cerca de 200 anos para se decompor na natureza); economia doméstica (pois a dona de casa passará a ter de comprar embalagens específicas para descartar o lixo); e sustentabilidade (adotar ações que contribuam com a preservação do meio ambiente e, consequentemente, do planeta).
“Na busca de soluções e/ou alternativas, o consumidor começa a se deparar com produtos sustentáveis, disponíveis no mercado, mais adequados ao descarte de lixo, produzidos à base de matéria-prima renovável ou reciclada, e com preços acessíveis. É o começo de uma mudança na cultura e nos hábitos de muitas pessoas, que contribuirá, e muito, para a saúde do planeta Terra”, explica Rafael Costa.
A empresa possui também um saco de lixo que utiliza em sua fabricação o produto antibacteriano Microban, que impede a proliferação de microorganismos e a emissão de gases orgânicos voláteis que causam o mau cheiro. Dessa forma, o consumidor pode otimizar o uso do saco de lixo, com a garantia de higiene até o dia da substituição, que pode ser feita em intervalo maior de tempo.
Exemplos de danos aos animais marinhos causados pelos sacos plásticos não biodegradáveis
Natureza
Exemplos de danos aos animais marinhos causados pelos sacos plásticos não biodegradáveis
Para começar, parar de utilizar sacolas plásticas, canudos e garrafas são alguns passos simples que você pode tomar para reduzir o gasto desse material. Comprar a granel e evitar itens que sejam embalados em plástico também ajuda, já que quase 40% de plásticos não fibrosos são criados para serem usados apenas uma vez. Reciclar quando possível e não descartá-lo em qualquer lugar também ajuda a reduzir a poluição.
Milhares de milhões de quilos de plástico são jogados fora todo ano. Esse detrito chega até a cadeia alimentar, desde micróbios até grandes animais, como baleias, que acabam ingerindo o plástico acreditando que ele é comida. Outros animais, como caranguejos e pássaros, usam esse tipo de material para construir casas, já que ele está sempre disponível no ambiente. Já espécies como focas e tartarugas frequentemente ficam enroscadas nas chamadas “redes fantasmas” — redes de pesca descartadas por pescadores.