Internacional
Rússia e Ocidente trocam acusações por suposta “bomba suja”
Moscou acusa Kiev de preparar explosivo que dissemina radiação por milhares de quilômetros quadrados. Otan, EUA e UE rejeitam alegação e dizem que intenção russa seria agravar o conflito em solo ucraniano
O Ocidente e a Rússia trocaram acusações nesta segunda-feira (24/10) em torno de uma suposta “bomba suja” que estaria sendo preparada pela Ucrânia.
O Kremlin insiste na gravidade da denúncia, enquanto países como Estados Unidos, França e Reino Unido afirmam que a alegação russa seria uma tentativa de justificar um possível agravamento na guerra travada em solo ucraniano.
As nações ocidentais rejeitaram as alegações feitas pelo ministro russo da Defesa, Serguei Shoigu, no último fim de semana, de que Kiev já teria preparado o artefato.
As chamadas “bombas sujas” são bombas convencionais que disseminam material radioativo.
Elas não possuem o efeito devastador como a destruição gerada por uma bomba nuclear, mas são capazes de deixar vastos territórios contaminados pela radiação.
“Indignação” russa
Moscou planeja levar a questão à reunião do Conselho de Segurança da ONU nesta quarta-feira.
Autoridades russas reafirmaram nesta segunda-feira as acusações de Shoigu. O chefe das Forças de Proteção Química e Biológica das Forças Armadas russas, o tenente-general Igor Kirillov, disse que os militares russos estão preparados para uma possível contaminação por radiação, mas alertou que a explosão de uma “bomba suja” poderá contaminar milhares de quilômetros quadrados.
O ministro russo do Exterior, Seguei Lavrov, disse não se tratar de uma suspeita infundada. “Temos sérias razões para acreditar que tais coisas estejam sendo planejadas”, afirmou.
Ocidente rejeita acusação
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, rejeitou categoricamente a acusação.
Após conversar por telefone com o Secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, e com o ministro britânico da Defesa, Ben Wallace, ele advertiu que a Rússia “não deve usá-la como pretexto para uma escalada” no conflito.
O diretor de Comunicações do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, assegurou que não há provas da suposta preparação de uma “bomba suja” por parte da Ucrânia.
“Vimos no passado que os russos, ocasionalmente, culpam a Ucrânia por coisas que eles mesmo planejam fazer”, alertou, também admitindo que não há indícios de que Moscou esteja preparando uma bomba radioativa. De qualquer forma, diz Kirby, “essa é uma jogada que já vimos antes”.
Ele assegura não haver verdade alguma nas alegações russas de que os ucranianos planejariam detonar a “bomba suja” para depois jogar a culpa em Moscou. “Isso simplesmente não é verdade. Nós sabemos que não é verdade”, garantiu.
O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, disse que o apoio do bloco europeu à Ucrânia continua inabalável, “inclusive no combate à desinformação”.
Zelenski rebate
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, também rejeitou a acusação. “Se a Rússia afirma que a Ucrânia estaria supostamente preparando algo, isso só pode significar uma coisa: que a Rússia já preparou isso ela própria”, rebateu.
Moscou reagiu com indignação às declarações das lideranças ocidentais. “Suas desconfianças em relação às informações compartilhadas pela parte russa não significam que a ameaça de uma ‘bomba suja’ tenha deixado de existir – a ameaça é óbvia”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.