Internacional
Ex-general da Otan é eleito presidente da República Tcheca
Petr Pavel fez campanha prometendo fortalecer os laços com países do Ocidente e apoiar a Ucrânia. De perfil social-liberal, ele foi apoiado pela coalizão de centro-direita que governa o país parlamentarista
A República Tcheca elegeu em segundo turno neste sábado (28/01) o seu novo presidente, Petr Pavel, um general aposentado de 61 anos que já foi chefe do Estado-Maior das Forças Armadas do país e presidente do Comitê Militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Ele concorreu ao cargo pela primeira vez e recebeu 58,3% dos votos, derrotando o ex-premier e bilionário Andrej Babis, uma figura populista e dominante na política tcheca na última década, que governou o país de 2017 a 2021.
Pavel é um social-liberal que fez campanha como candidato independente e conquistou o apoio do governo, uma coalizão de centro-direita. Ele fez um discurso em Praga tentando transmitir unidade após a confirmação de sua vitória.
“Valores como verdade, dignidade, respeito e humildade ganharam”, disse. “Estou convencido de que esses valores são compartilhados pela grande maioria de nós, vale a pena tentar fazê-los parte de nossas vidas e também devolvê-los ao Castelo de Praga e à nossa política.”
Ele expressou apoio contínuo à Ucrânia em sua defesa contra a invasão da Rússia e ao desejo dos ucranianos de aderir à União Europeia.
Os presidentes tchecos não atuam diretamente no dia-a-dia do governo parlamentarista, mas escolhem o primeiro-ministro, o chefe do banco central e os ministros do tribunal constitucional, têm influência sobre a política externa, comandam as Forças Armadas, são poderosos formadores de opinião e podem pressionar o governo sobre políticas públicas.
O comparecimento às urnas no segundo turno, de 70,2%, foi um recorde. Pavel será o quarto presidente da República Tcheca desde a independência do país e a separação pacífica da Eslováquia em 1993, após quatro décadas de governo comunista totalitário da então Tchecoslováquia.
Antecessor apoiava relações com Moscou
Pavel tomará posse em março, substituindo Milos Zeman, que exerceu dois mandatos de presidente na última década e havia apoiado Babis como sucessor.
Zeman advogava pelo estreitamento dos laços com Pequim e com Moscou até a Rússia invadir a Ucrânia, e a eleição de Pavel marca uma mudança brusca nesse tema.
Babis lidera o maior partido da oposição no Parlamento, e na campanha buscou atacar Pavel como candidato do governo e atrair eleitores insatisfeitos com a inflação e o aumento do custo de vida.
A presidente da Eslováquia, Zuzana Caputova, foi ao comitê de Pavel para parabenizá-lo pessoalmente, em uma demonstração de proximidade política.
O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, disse que esperava “aprofundar a cooperação próxima com o país vizinho. “Espero impacientemente por um encontro pessoal e desejo a você muita força e sucesso”, afirmou.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, elogiou o “forte compromisso” de Pavel com “nossos valores europeus”. “Sua experiência com segurança, defesa e relações exteriores serão preciosas para manter e fortalecer a unidade europeia no seu apoio à Ucrânia”, escreveu ela no Twitter.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, também felicitou Pavel por sua eleição no Twitter e disse que esperava uma estreita cooperação.
“Política externa é seu ponto forte”, disse Petr Just, um analisa da Universidade Metropolitana de Praga, à agência de notícias Associated Press. Ele avalia que a vitória de Pavel irá fortalecer a conexão da República Tcheca com os países do Ocidente.
Laços com a União Europeia e a Otan
Pavel defende firmemente que seu país de 10,5 milhões de habitantes siga na União Europeia (UE) e na Otan. Ele também apoia que a República Tcheca adote o euro como moeda – um tópico que sucessivos governos têm mantido em segundo plano – e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, além de outras políticas progressistas.
Militar de carreira, Pavel entrou para o Exército na época comunista e foi condecorado com uma cruz militar francesa por sua atuação pela manutenção da paz na antiga Iugoslávia nos anos 90. Mais tarde, foi chefe de Estado-Maior das Forças Armadas tchecas e presidiu o Comitê Militar da Otan por três anos, antes de se aposentar em 2018.
Seu opositor Babis havia feito uma campanha baseado no temor de que a guerra na Ucrânia se espalhe, e procurou oferecer-se para intermediar conversar de paz, sugerindo que Pavel, como ex-militar, poderia arrastar os tchecos para uma guerra – uma alegação que ele rejeitou.