Internacional
Terremoto deixa mais de 2.300 mortos na Turquia e na Síria
Equipes de regaste buscam por sobreviventes em escombros depois de abalo de magnitude 7,8 atingir região na fronteira entre os dois países
Um terremoto de magnitude 7,8 na escala Richter, que atingiu na madrugada desta segunda-feira (06/02) o sudeste da Turquia e o noroeste da Síria, deixou mais de 2.300 mortos e milhares de feridos.
O abalo ocorreu às 04h17 (horário local) e seu epicentro foi próximo à capital da província de Gaziantep, um importante centro industrial no sudeste da Turquia, com a origem a uma profundidade de 17,9 quilômetros. Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos, minutos após o primeiro sismo, outro tremor de 6,7 graus na escala de Richter foi registado a 9,9 quilômetros de profundidade.
O epicentro foi na cidade de Pazarcik, na província de Kahramanmaras, de acordo com o serviço turco de emergências Afad, embora o observatório sísmico de Kandilli aponte para a cidade de Sofalici, na província de Gaziantep, 40 quilômetros mais ao sul. O terremoto também foi sentido no Líbano e no Chipre e até na capital egípcia, Cairo.
Centenas de prédios foram derrubados em uma ampla área de centenas de quilômetros, desde o norte da Síria – palco de uma guerra civil há quase 12 anos –, em cidades como Aleppo, até o sudeste da Turquia, onde foi afetada a maior cidade da região, Diyarbakir. Equipes de regaste buscam por sobreviventes nos escombros.
Autoridades turcas disseram que o abalo deixou ao menos 1.500 mortos em dez províncias do país, e mais de 8.500 feridos. Na Síria, o número de mortos chegou a 510, somando os territórios dominados pelo governo e os ocupados por rebeldes.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) espera que o número de mortos deva subir significativamente devido à grande quantidade de prédios danificados. O representante regional de emergência da OMS para o Mediterrâneo Oriental, Rick Brennan, afirmou que a agência da ONU enviou reforços para sua equipe em Gaziantep e disse que os trabalhos de resgate estão sendo prejudicados por tremores secundários.
Sobre a Síria, Brennan afirmou que o terremoto é mais uma tragédia que se soma à crise humanitária que atinge o país, que enfrenta graves problemas econômicos e um surto de cólera. “A convergência de todas essas crises está causando um enorme sofrimento.”
Sob controle do regime sírio, a cidade de Aleppo registrou vários tremores secundários.
A DW conseguiu falar por mensagens de WhatsApp com uma mulher de 30 anos que não quis citar o nome por questões de segurança. “A maioria das pessoas que estão ajudando a retirar as pessoas dos escombros é de civis. Grande parte não tem formação para fazer trabalho de resgate. É muito perigoso. A qualquer momento, eles podem ser soterrados”, explicou a testemunha, que disse sentir a terra tremer a toda hora. “Talvez também seja apenas o meu corpo, estou em choque.”
“Precisamos urgentemente de doações de sangue. Já pediram a todo mundo aqui para doar sangue porque o número de feridos aumenta a toda hora”, descreveu. “Pediram para as pessoas aqui em Aleppo para que deixem suas casas, mas quase ninguém saiu. Não sabem para onde ir e também não têm dinheiro para ficar num hotel”, disse.
Trabalhos de resgate
Na Turquia, o governo declarou “nível de alarme 4”, que clama por ajuda internacional. As baixas temperaturas e a neve na região, onde também há territórios montanhosos de difícil acesso, dificultam os trabalhos de resgate.
Vídeos publicados nas redes sociais mostraram prédios destruídos em várias cidades do sudeste do país. A emissora estatal RTR mostrou os trabalhos de resgate na província em Osmaniye, que correm contra o tempo em busca de sobreviventes nos escombros.
Segundo uma testemunha ouvida pela agência de notícias Reuters, o tremor durou cerca de um minuto. Os abalos também foram sentidos na capital turca, Ancara, localizada a 460 quilômetros do epicentro do terremoto.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse estar em contato com as autoridades locais das regiões afetadas para se informar sobre a situação. “Espero que possamos superar esse desastre juntos o mais rápido possível e com o mínimo de danos”, afirmou Erdogan, em redes sociais.
O abalo sísmico, segundo Erdogan, é um dos mais devastadores da história recente da Turquia. “É o segundo mais forte, desde o terremoto de Erzincan, de 1939”, acrescentou. O presidente afirmou que foram registrados desabamentos ou danos graves em mais de 2.800 imóveis residenciais, e que havia sido possível resgatar com vida 2.470 pessoas dos escombros.
Um dos símbolos da enorme destruição do tremor é o histórico castelo romano de Gaziantep, que havia sido erguido há mais de 1.700 anos. A CNNTurk mostrou imagens castelo que ficou severamente danificado.
“Situação trágica”
Na Síria, em guerra civil há mais de uma década, as províncias mais atingidas foram Hama, Aleppo e Latakia. A zona devastada se divide entre o território controlado pelo regime de Damasco e o último enclave nas mãos da oposição, que está cercado por forças governo, apoiadas pela Rússia.
O governo sírio afirmou que ao menos 403 pesosoas morreram nas áreas que controla. Há relatos de 380 mortos em regiões controladas pelos rebeldes, que abrigam cerca de 4 milhões de deslocados provenientes de outras partes do país, na sequência da longa guerra civil.
“A situação é muito trágica, dezenas de prédios desabaram na cidade de Salqin”, afirmou um integrante dos Capacetes Brancos, uma organização síria de resgate, em vídeo divulgado nas redes sociais. A cidade citada fica a cinco quilômetros da fronteira com a Turquia.
“Famílias inteiras estão soterradas e os Capacetes Brancos não conseguem chegar até elas. Faltam equipamentos para resgatar os sobreviventes em diferentes locais ao mesmo tempo”, afirmou Omar Albam, repórter da DW na Síria. “No momento, não há nenhuma estimativa confiável sobre número de mortos. O caos domina tudo e ainda está confuso”, contou.
Segundo Albam, foi especialmente a pequena cidade de Samada, a 30 quilômetros de Idlib e próxima da fronteira com a Turquia, uma das mais atingidas pelo sismo no país. A cidade teria sido completamente destruída pelo terremoto. Mas também a cidade de Jindires, a 20 quilômetros a sudoeste de Afrin, foi fortemente atingida, com danos severos às conexões de internet e celulares.
O presidente sírio, Bashar al-Assad, realizou uma reunião de gabinete de emergência para avaliar os danos e discutir as medidas a serem adotadas.
A emissora estatal síria mostrou imagens de socorristas buscando por sobreviventes nos escombros em meio à chuva forte e granizo. Muitos prédios na região afetada já havia sofridos danos devido à guerra civil no país que já dura quase 12 anos.
Ajuda internacional
Vários países ofereceram ajuda à região afetada. A União Europeia (UE) afirmou que enviará ao menos dez equipes de resgate para a Turquia. O comissário europeu de Gestão de Crises, Janez Lenarcic, disse que Bruxelas ativou o Mecanismo de Proteção Civil do bloco. Equipes da Holanda, Romênia, Croácia, República Tcheca, França, Grécia, Bulgária e Polônia já foram deslocadas para o local atingido.
O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, sublinhou que o bloco europeu está “pronto para ajudar” os países afetados após um “devastador” sismo, que “já ceifou a vida a centenas de pessoas e feriu muitas mais”. A Itália, Hungria e Alemanha também ofereceram ajuda.
Ao todo, cerca de 45 países ofereceram ajuda à Turquia, entre eles a Índia, China, Rússia, Ucrânia e Israel.
Mais um forte tremor registrado
Depois do primeiro abalo, a Turquia registrou um segundo forte terremoto de 7,6 graus na escala Richter. A potente réplica ocorreu por volta do meio-dia, tendo epicentro na cidade de Elbistan, na província turca de Kahramanmaras, a apenas 80 quilômetros ao norte do primeiro sismo.
A Turquia está situada numa das zonas sísmicas mais ativas do mundo. Em novembro, um sismo de magnitude 5,9 atingiu a província turca de Düzce, a 200 quilômetros ao leste de Istambul, deixando pelo menos 68 feridos.
Em 1999, um terremoto de magnitude 7,4 que atingiu Izmit deixou mais de 17 mil mortos. Em 2011, um sismo na cidade de Van deixou 500 mortos.
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