CIÊNCIA & TECNOLOGIA
Brasil na encruzilhada energética: oportunidade de liderança ou atraso irreversível?

O mundo enfrenta uma corrida contra o tempo para abandonar os combustíveis fósseis e adotar uma matriz energética sustentável. Secas extremas, inundações catastróficas e eventos climáticos devastadores estão se intensificando, expondo a urgência dessa transformação. No entanto, a transição para fontes limpas avança a passos lentos, sufocada por interesses políticos e econômicos e pela falta de investimentos consistentes.
No Brasil, a situação é paradoxal. A matriz elétrica do país já é considerada uma das mais limpas do planeta, graças à predominância da energia hidrelétrica. Mas essa vantagem está sob ameaça. A dependência excessiva de hidrelétricas coloca o sistema em risco diante de crises hídricas, algo que se tornou cada vez mais comum nos últimos anos. Para evitar apagões e fortalecer sua posição no cenário global, o Brasil precisa diversificar urgentemente suas fontes de energia.
A energia solar e eólica têm se destacado como alternativas promissoras. No Nordeste, o potencial solar é imenso, transformando áreas semiáridas em usinas de geração sustentável. Já o vento, especialmente nas regiões litorâneas, vem impulsionando o crescimento da energia eólica. Ambas as fontes não apenas garantem segurança energética, mas também criam oportunidades para exportação. Além disso, os biocombustíveis, como o etanol e o biodiesel, mostram como o país pode aproveitar sua biodiversidade de forma sustentável.
No entanto, o progresso encontra barreiras significativas. Apesar do compromisso assumido no Acordo de Paris para reduzir emissões de gases de efeito estufa, a implementação de políticas ambiciosas ainda é um desafio. A falta de vontade política e o baixo investimento em pesquisa e desenvolvimento atrasam o avanço. Universidades e centros de pesquisa têm feito sua parte, mas sem o respaldo financeiro e estratégico de governos e empresas, as iniciativas permanecem limitadas.
A regulação também é um obstáculo. A burocracia excessiva impede o pleno aproveitamento das fontes renováveis, enquanto os subsídios para combustíveis fósseis continuam a drenar recursos que poderiam ser direcionados para tecnologias limpas.
Enquanto isso, a população desempenha um papel fundamental na transformação. Escolhas conscientes e a pressão por políticas públicas mais efetivas podem acelerar mudanças estruturais. Investir em energia renovável é mais do que uma questão ambiental; é uma estratégia de sobrevivência econômica e social em um mundo cada vez mais competitivo.
O Brasil tem todos os ingredientes para liderar essa transição. Recursos naturais abundantes, conhecimento técnico e localização geográfica privilegiada são vantagens inquestionáveis. O que falta é transformar potencial em ação. A questão é: o país vai se contentar em ser coadjuvante ou assumir o protagonismo nessa jornada?