Internacional
Irã indicia mil manifestantes por “ações subversivas”
Acusados serão julgados publicamente em Teerã e podem ser condenados à morte. Indiciamentos marcam a primeira grande ação legal do regime iraniano contra a dissidência desde o início dos protestos por Mahsa Amini
Autoridades iranianas anunciaram nesta segunda-feira (31/10) que cerca de mil pessoas foram indiciadas em relação à onda de intensos protestos que vem agitando o país. Elas serão julgadas publicamente em Teerã.
Os indiciamentos em massa marcam a primeira grande ação legal do regime iraniano com o objetivo de reprimir a dissidência desde que as manifestações eclodiram, há mais de seis semanas.
A agência de notícias estatal iraniana IRNA citou autoridades judiciais afirmando que mil pessoas que tiveram papel central nos protestos serão levadas a julgamento em Teerã por suas “ações subversivas”, incluindo agredir forças de segurança e incendiar propriedade pública, entre outras acusações.
Já a agência de notícias semioficial Tasnim, citando o chefe do Judiciário iraniano, Gholam-Hossein Mohseni Ejei, afirmou que essas pessoas cometeram “atos de sabotagem em eventos recentes” e serão julgadas publicamente nesta semana por um Tribunal Revolucionário.
“Aqueles que pretendem confrontar e subverter o regime são dependentes de estrangeiros e serão punidos de acordo com as normas legais”, disse o chefe do Judiciário iraniano, indicando que alguns dos manifestantes foram acusados de colaborar com governos estrangeiros. Autoridades iranianas têm insistido em alegações infundadas de que governos adversários do Irã têm fomentado os protestos.
“Sem dúvida, nossos juízes lidarão com os casos dos recentes tumultos com precisão e velocidade”, acrescentou Mohseni Ejei.
Ele alegou que os promotores iranianos buscaram diferenciar os manifestantes que saíram às ruas para expor suas indignações dos iranianos que visavam derrubar a teocracia.
“Mesmo entre os agitadores, deve-se esclarecer quem teve a intenção de confrontar o sistema e derrubá-lo”, disse o chefe do Judiciário.
Além de Teerã, as autoridades judiciárias anunciaram que indiciaram também centenas de pessoas em outras províncias iranianas. Alguns foram acusados de “corrupção na terra” e “guerra contra Deus”, crimes puníveis com a pena de morte.
Repressão violenta
Os protestos em massa tiveram início em todo o Irã após a morte de Jina Mahsa Amini, de 22 anos, sob custódia policial. A jovem iraniana de origem curda morreu em 16 de setembro, três dias após ser presa em Teerã pela controversa polícia da moral iraniana por supostamente violar o código de vestimenta islâmica para mulheres.
A morte gerou indignação no Irã e em outros países e rapidamente provocou manifestações generalizadas lideradas em grande parte por mulheres, que queimaram seus véus e confrontaram as forças de segurança, na maior onda de protestos na república islâmica em anos.
Os atos, que acabaram se tornando também contrários ao regime, foram reprimidos violentamente. Forças de segurança chegaram a abrir fogo contra os manifestantes para dispersar a multidão, bem como disparar gás lacrimogêneo.
Ao menos 270 pessoas morreram e 14 mil foram detidas, segundo o grupo Human Rights Activists no Irã. As manifestações continuaram, mesmo depois de a temida Guarda Revolucionária paramilitar fazer um alerta pelo fim dos protestos.