Internacional
“Escândalo de documentos não afeta chances de Biden em 2024”
Apesar de novos achados comprometedores, estrategistas avaliam que eleitorado estará concentrado em outros temas até as próximas presidenciais. Há diferenças relevantes com caso Trump, que segue pretendendo reeleger-se
As investigações sobre documentos confidenciais em posse do presidente Joe Biden seguem gerando polêmica nos Estados Unidos. Neste sábado (21/01), o advogado do presidente revelou que na véspera, em revista na residência do democrata em Wilmington, Delaware, o FBI localizara novos papéis marcados como “classified” (secreto), e também confiscara algumas anotações do punho de Biden.
Segundo estrategistas políticos, contudo, os achados não deverão afetar a recandidatura do político de 80 anos à Casa Branca, programada para fevereiro. Consultados pela rede de TV Fox News, diversos especialistas democratas e republicanos afirmaram que o caso não terá relevância na campanha de Biden para 2024, nem se refletirá no resultado das urnas.
“Neste estágio, não acho que esse escândalo, por si só, impedirá Biden de perseguir um segundo mandato. M as enfraquece uma de suas principais linhas de ataque contra o ex-presidente Donald Trump, se este for o candidato republicano”, avaliou Giancarlo Sopo, do partido de Trump.
Joe Caiazzo, estrategista do Partido Democrata, atuante em diversas campanhas presidenciais, concorda que essa controvérsia já não estará na mente dos eleitores no fim de 2024: “Daqui a dois anos, quando forem às urnas, os eleitores estarão focados em se o presidente tomou medidas sobre os custos de medicamentos prescritos, as mudanças climáticas, a inflação. E a resposta é: sim, ele fez tomou essas medidas.”
“Obsessão passageira”
À TV CNN, sob condição de anonimato, membros do círculo íntimo de Biden comentaram que toda a agitação em torno dos documentos seria uma “obsessão passageira” por parte de “uma elite de Washington”, mas que não deverá se refletir nas intenções do chefe de Estado de se recandidatar.
Para um conselheiro de Biden os americanos valorizam mais os resultados que o democrata tem apresentado ao país – como combate à inflação, criação de empregos, luta pelos direitos reprodutivos e pela reforma da legislação sobre armas – do que a questão dos documentos confidenciais.
Antes de a descoberta vir a público, Biden tencionava anunciar sua recandidatura após o discurso sobre o estado da União, agendado para 7 de fevereiro. Fontes próximas à Casa Branca garantiram à CNN que os planos se mantêm.
Contudo, e apesar do otimismo dos aliados, é difícil negar que o caso gerou uma “dor de cabeça política” para o democrata e pôs fim aos seus “dois melhores meses desde que se tornou presidente”, ressalvou o analista político Matthew Continetti.
A referência é ao êxito dos democratas em evitar um colapso nas intercalares de novembro, enquanto os republicanos se afundaram em rachas e cismas, patentes nas recentes dificuldades para eleger Kevin McCarthy como presidente da Câmara de Representantes.
Mar-a-Lago, versão 2.0?
Em 9 de janeiro, o assessor jurídico de Biden, Richard Sauber, informou que em novembro os advogados do presidente haviam descoberto um “pequeno número de documentos classificados” num “armário trancado” no Penn Biden Center, think tank ligado à Universidade da Pensilvânia no qual o democrata mantivera um escritório.
Segundo Sauber, os advogados procederam à entrega dos documentos ao Arquivo Nacional, responsável por preservar esse tipo de material. Dois dias mais tarde, porém, o gabinete jurídico da Casa Branca divulgou a descoberta de mais documentos classificados na residência privada de Biden em Wilmington.
A Comissão de Justiça da Câmara dos Representantes, atualmente sob controle republicano, abriu imediatamente uma investigação, enquanto o procurador-geral Merrick Garland nomeou um procurador especial para investigar os achados.
Também com recurso a um procurador especial nomeado por Garland, o Departamento de Justiça já está investigando a retenção, por parte do ex-presidente Donald Trump, de mais de 300 documentos confidenciais em sua mansão em Mar-a-Lago, na Flórida.
Ao deixar a Casa Branca, Trump levou consigo caixas inteiras de documentos, embora uma lei de datada de 1978 comprometa todo presidente americano a entregar ao Arquivo Nacional seus documentos de trabalho, o que inclui cartas e e-mails.
Agentes do FBI realizaram em 8 de agosto de 2022 uma vasta busca na mansão de Trump, com base num mandado de “retenção de documentos confidenciais” e “obstrução a uma investigação federal”, apreendendo cerca de 30 caixas, além das 15 que Trump já entregara em janeiro.
Na ocasião, Biden classificou como “irresponsável” a decisão de seu antecessor de manter centenas de documentos secretos em sua residência.
Diferenças importantes entre Biden e Trump
Apesar das aparentes semelhanças entre os dois casos, especialistas têm apontado especificidades potencialmente significativas na avaliação do Departamento de Justiça.
Em primeiro lugar, não há indicação de que Joe Biden soubesse da existência dos registros antes de eles serem rapidamente entregues ao Arquivo Nacional, e não houve qualquer intenção aparente de ocultar a situação. O democrata se disse “surpreso” após a descoberta no Penn Biden Center.
Segundo as leis americanas, para que haja crime o autor teria que “remover conscientemente” os papéis, sem autoridade, e pretender mantê-los numa “localidade não autorizada”.
O fato é relevante, pois o Departamento de Justiça tentará determinar se existiu intenção de uso indevido de segredos do governo, ao decidir se apresenta ou não acusações criminais.
Por sua vez, Trump não negou saber da existência dos documentos em sua mansão e enfrenta acusações de obstrução por sua batalha prolongada para mantê-los em sua posse.
Outra diferença que poderá pesar é o volume dos arquivos encontrados: enquanto Biden tinha um pequeno número de papéis marcados como “secreto”, Trump estaria na posse de cerca de 300 documentos.
Assim como Biden, que em 2022 revelou a intenção concorrer a um novo mandato presidencial, Trump tem pretensões de regressar à Casa Branca. O anúncio oficial foi em novembro, meses após ter tido sua mansão revistada pelo FBI. O republicano planeja realizar já em janeiro seu primeiro evento público de campanha, no estado da Carolina do Sul.