Internacional
Conselho de Segurança da ONU acredita que colônias israelenses ‘impedem a paz’
O Conselho de Segurança da ONU denunciou em comunicado nesta segunda-feira (20) a legalização de nove colônias israelenses em territórios da Cisjordânia ocupada, e alertou que tais medidas “impedem a paz” com os palestinos.
“As contínuas atividades de colonização de Israel colocam em risco a viabilidade da solução de dois Estados”, disse o Conselho em um comunicado da presidência, endossado por todos os 15 membros, mas sem o caráter vinculante de uma resolução debatida na semana passada.
A nota indica que o Conselho “se opõe firmemente a todas as medidas unilaterais que impeçam a paz, incluindo, entre outras, a construção e expansão de assentamentos israelenses, o confisco de terras palestinas e a ‘legalização’ de assentamentos, a demolição de casas palestinas e o deslocamento de civis palestinos”.
Nesse sentido, o Conselho “expressa profunda preocupação e consternação” com o anúncio de Israel de legalizar nove assentamentos e construir mais casas nos assentamentos existentes.
Após o anúncio do gabinete de segurança israelense em 12 de fevereiro, os Emirados Árabes Unidos fizeram circular um projeto de resolução entre os Estados-membros do Conselho.
O texto afirmava “condenar todas as tentativas de anexação, incluindo decisões e medidas de assentamento israelenses” e pediu “sua retirada imediata”. O termo “condenar”, porém, não aparece na versão desta segunda-feira.
O texto também exigia que Israel “cessasse imediata e completamente suas atividades de assentamento nos territórios ocupados, incluindo Jerusalém Oriental”.
A iniciativa provocou o descontentamento dos Estados Unidos, que têm poder de veto no Conselho. O Departamento de Estado considerou a resolução “de pouca utilidade em vista do apoio necessário para as negociações sobre a solução de dois Estados”.
Ao mesmo tempo, porém, Washington criticou o anúncio israelense sobre os nove assentamentos.
O projeto de resolução foi retirado após discussões em particular entre palestinos e americanos, disse uma fonte diplomática.
“Os Emirados têm trabalhado muito com diferentes partes, com os palestinos e outros, com os Estados Unidos, que têm feito um trabalho diplomático imenso, para alcançar a unidade” do Conselho, disse sua embaixadora Lana Zaki Nusseibeh.
– “Discurso de ódio” –
Como destacado pela embaixadora Nusseibeh, esta é “a primeira decisão (do Conselho) sobre este expediente em mais de seis anos.”
Em dezembro de 2016, pela primeira vez desde 1979, o Conselho de Segurança convocou Israel a acabar com a colonização nos territórios palestinos, em uma resolução possibilitada pela decisão dos EUA de não usar seu poder de veto.
Os EUA abstiveram-se nessa votação algumas semanas antes da transferência de poder entre o democrata Barack Obama (2009-2017) e Donald Trump (2017-2021), embora até então sempre tivessem apoiado Israel nessa delicada questão.
Embora “útil”, “a declaração de hoje, enfraquecida sob pressão dos americanos e de Israel, está longe da condenação contundente que a grave situação merece”, lamentou Louis Charbonneau, da Human Rights Watch (HRW).
Questionado sobre sua eventual decepção com a substituição da resolução por uma declaração presidencial, o embaixador da Palestina na ONU, Riyad Mansour, destacou que o importante é ter uma “posição unida” no Conselho.
“Isolar uma das partes é um passo na direção correta”, afirmou Mansour aos jornalistas.
“Esta mensagem deve ser transmitida e traduzida num plano de ação com um cronograma para os esforços da ONU e dos seus Estados-membros para nos colocar num caminho diferente rumo à liberdade, justiça e paz”, sublinhou.
O embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, denunciou a decisão do Conselho. “A reunião de hoje deveria ter sido sobre os israelenses inocentes recentemente assassinados”, criticou, antes de levantar-se para respeitar um minuto de silêncio, um gesto que não foi seguido por outra delegação.
“A evidência é irrefutável, a cultura palestina de ódio e terror é real. Como este Conselho pode justificar ignorá-la?”, acrescentou Erdan, acusando os palestinos de “envenenar as mentes de gerações” por meio de “campanhas de propaganda das quais (os líderes nazistas Joseph) Goebbels e (Adolf) Hitler ficariam muito orgulhosos.”