Politíca
Hugo Motta consolida apoio e desponta como favorito para presidência da Câmara em uma mudança estratégica impulsionada por Lira
Articulações intensas e mudança de alianças na corrida pela presidência da Câmara dos Deputados
Por Roberto Tomé
O deputado paraibano Hugo Motta, filiado ao Republicanos, ganha força como favorito na corrida pela presidência da Câmara dos Deputados, em um processo de articulação política profundamente estratégico e conduzido pelo atual presidente da Casa, Arthur Lira (Progressistas-AL). Até alguns meses atrás, Motta era apenas mais um nome cogitado entre diversos candidatos. Porém, com o apoio direto e decisivo de Lira, Motta viu sua candidatura ser impulsionada para um novo patamar, o que reposicionou antigos protagonistas, como Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e Antônio Brito (PSD-BA), em segundo plano, favorecendo a ascensão do paraibano.
No início de sua movimentação política, Hugo Motta enfrentava uma forte barreira interna com a candidatura oficial de Marcos Pereira (SP), líder do Republicanos. Pereira, embora sem apoios sólidos, insistia em manter sua candidatura. No entanto, a ausência de suporte de setores estratégicos e a possibilidade de fragmentação dentro do partido levaram Arthur Lira a intervir. Sem o respaldo das bases e enfrentando pressão dentro da própria legenda, Pereira acabou por retirar-se da disputa, deixando o caminho livre para Motta. Lira, que historicamente havia demonstrado lealdade a Elmar, causou surpresa ao direcionar seu apoio para Motta, criando uma aliança que uniu setores até então opostos, como o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Liberal (PL). Esse movimento, guiado por Lira, busca uma convergência entre forças com visões distintas, mas que, sob a articulação de Lira, têm agora um ponto em comum: garantir a vitória de Motta.
Para garantir o sucesso de sua estratégia, Arthur Lira lançou mão de seu poder de articulação política, prometendo cargos-chave e oferecendo apoio a diferentes legendas, na tentativa de construir uma base ampla para Motta. Entre as promessas estão vagas na Mesa Diretora e a liderança de comissões estratégicas, atraindo partidos de diversas ideologias. A tática também incluiu concessões específicas: o PL espera ocupar a vice-presidência e posições de destaque em comissões, enquanto o PT já demonstra interesse em conquistar a primeira secretaria e também uma vaga futura no Tribunal de Contas da União (TCU). Essas concessões foram fundamentais para unir apoios divergentes e estabelecer uma frente sólida de sustentação à candidatura de Motta.
Em um movimento impressionante pela rapidez e eficiência, a candidatura de Hugo Motta reuniu apoio de cerca de dez partidos em apenas dois dias, acumulando um número projetado de 353 votos, bem acima dos 257 necessários para assegurar a presidência da Câmara. Esse número, no entanto, não desestimula Motta de buscar uma margem ainda maior de votos. União Brasil, PDT e PSB são partidos que estão prestes a formalizar seu apoio ao deputado paraibano, reforçando ainda mais a segurança de sua candidatura e garantindo uma vitória com ampla maioria.
A aliança entre Lira e Motta desencadeou uma ruptura não apenas política, mas também pessoal entre Lira e Elmar Nascimento. Anteriormente aliados próximos, a decisão de Lira de apoiar Motta em detrimento de Elmar foi recebida com surpresa e frustração. Elmar, sentindo-se traído, uniu-se a Antônio Brito para tentar viabilizar uma candidatura alternativa, mas os esforços foram insuficientes diante da robusta base de apoio de Motta. Em uma reunião tensa, a bancada do União Brasil sinalizou sua retirada do apoio a Elmar, delegando ao próprio líder da legenda a tarefa de iniciar negociações com o grupo de Motta.
Com a candidatura de Hugo Motta cada vez mais consolidada, Antônio Brito foi empurrado para uma posição de isolamento. Reservado em sua abordagem, Brito manteve suas articulações dentro do PSD, evitando declarações públicas sobre sua candidatura. No entanto, a pressão entre os parlamentares aliados de Brito aumenta, à medida que a candidatura de Motta se fortalece. Gilberto Kassab, presidente do PSD e apoiador de Brito, resiste em renunciar a seu candidato, gerando um clima de tensão que deverá ser resolvido nos próximos dias, já que a posição do PSD será crucial para consolidar um quadro definitivo.
A próxima semana promete ser decisiva para as últimas articulações de Hugo Motta. Durante o recesso do G20, surgirá uma janela de negociações intensas nos bastidores, com partidos como Solidariedade e PSB já indicando adesão ao bloco de apoio ao deputado paraibano. Outras legendas como PSOL e Novo, devem apresentar candidaturas próprias, ainda que com chances limitadas de êxito. Motta, respaldado por um apoio majoritário e por uma articulação política que mobilizou os bastidores da Câmara, desponta como a figura central em uma disputa que promete redefinir as forças políticas dentro do Congresso brasileiro.