Internacional
Berlim ameaça não dar aval a gasoduto russo-alemão
Chefe da diplomacia alemã afirmou que Nord Stream 2 não poderá operar no caso de uma “escalada” na Ucrânia. Potências ocidentais têm advertido contra potencial invasão do país pela Rússia
O controverso novo gasoduto russo-alemão Nord Stream 2 não terá autorização para funcionar em caso de uma “escalada” na Ucrânia, segundo declarações feitas na noite deste domingo (12/12) pela ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock.
Devido à tensa situação no leste europeu, “acordou-se entre os americanos e o anterior governo alemão” de Angela Merkel “que, em caso de uma nova escalada, este gasoduto não poderia operar”, declarou Baerbock à emissora de TV alemã ZDF, enquanto as potências ocidentais temem uma invasão da Ucrânia pelas tropas russas.
A ministra alemã participou durante o fim de semana de uma reunião do G7 dedicada às tensões com a Rússia e deve voltar ao tema na segunda-feira com seus parceiros europeus.
Ainda neste domingo, durante uma visita a Varsóvia, o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, disse que “seria um grave erro acreditar que violar as fronteiras de um país europeu não terá consequências”.
Durante a viagem de Scholz à Polônia, o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, pediu que o governo alemão suspenda o gasoduto, advertindo que Moscou pode usar a nova rota para “chantagear” a Europa. “Seria melhor não permitir a abertura do Nord Stream 2”, disse Morawiecki em entrevista coletiva ao lado de Scholz.
“Chamei a atenção do chanceler para os riscos associados à abertura do gasoduto Nord Stream 2 e, infelizmente, até que ponto esses riscos para a Ucrânia podem piorar consideravelmente”, disse o polonês.
Em novembro, o regulador do setor de energia da Alemanha anunciou a interrupção temporária do processo de aprovação do Nord Stream 2 da Rússia, dizendo que a empresa operacional precisa primeiro cumprir a lei alemã.
O gasoduto sob o Mar Báltico se destina a dobrar o fornecimento de gás russo para a Alemanha. A principal economia da UE argumenta que o projeto é necessário para ajudar na transição energética, deixando para trás combustíveis fósseis e energia nuclear e rumo a fontes sustentáveis.
Mas os críticos dizem que o gasoduto recentemente concluído aumentará a dependência energética da Europa em relação à Rússia. Além disso, o gasoduto também contorna a infraestrutura de gás da Ucrânia, privando o país das tarifas de trânsito fundamentais para sua economia.
A disputa surge no momento em que a Europa, que recebe da Rússia um terço de seu suprimento de gás, luta contra a alta dos preços de energia e quando o continente mais necessita do combustível, ao entrar no inverno, época mais fria do ano.
Obra iniciada há 10 anos
O Nord Stream 2 começou a ser construído em 2011. No início de 2020, antes da pandemia de covid-19, a previsão era que o projeto fosse concluído até o início de 2021. O projeto foi iniciado quando a Rússia ainda era membro do G8 (agora novamente G7) e antes da anexação da Crimeia e do conflito na Ucrânia.
Berlim é uma das principais promotoras e financiadoras da iniciativa, que prevê dobrar a capacidade de importação de gás russo pela nação europeia sem a necessidade de que o combustível passe por nações que mantêm relações tensas com Moscou, como a Ucrânia e a Polônia.
O projeto é na verdade uma ampliação da capacidade do sistema Nord Stream 1, que funciona desde 2011, e que liga a cidade russa de Ust-Luga a Greifswald, no leste alemão.
O Nord Stream 2, com 1.200 quilômetros de extensão, se tornou ainda mais estratégico para a Alemanha após Berlim estabelecer um abandono gradual da energia nuclear no país e estabelecer metas para a redução de emissões de CO2 e consumo de carvão. O gás natural produz 50% menos dióxido de carbono do que o carvão.