Internacional
Perseguição: governo da Índia bloqueia contas da congregação da Madre Teresa de Calcutá
Partido nacionalista hindu do primeiro-ministro Narendra Modi acusa missionários cristãos de fazerem “proselitismo”
Ogoverno nacionalista hindu chefiado pelo primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, determinou nesta segunda-feira, 27 de dezembro, o bloqueio das contas bancárias das Missionárias da Caridade no estado de Bengala Ocidental. Trata-se da congregação da Madre Teresa de Calcutá, religiosa que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1979 e foi canonizada pelo Papa Francisco em 2016. A decisão do governo se baseou em acusações de “proselitismo” e em supostas “irregularidades financeiras”, que não foram detalhadas.
Veículos de comunicação ligados ao partido político de Modi, o Bharatiya Janata, têm reforçado a narrativa ideológica do governo contra a congregação, acusando as Missionárias da Caridade de induzirem os indianos a se converter ao catolicismo mediante formas de coação “disfarçadas de caridade”, já que as religiosas fazem donativos aos necessitados, acolhem-nos em abrigos e lhes oferecem educação gratuita – ou seja, cumprem o seu carisma de “servir aos mais pobres dentre os pobres”, como o fazem desde o início da congregação, em 1950, seja na Índia, seja nas demais dezenas de países em que trabalham pelo próximo.
Medida afeta milhares de beneficiados pela congregação da Madre Teresa
A líder da oposição ao governo federal indiano, Mamata Banerjee, reagiu criticamente à medida autoritária. Ela publicou em sua rede social:
“Estou chocada ao saber que, no Natal, o Conselho de Ministros BLOQUEOU TODAS CONTAS BANCÁRIAS das Missionárias da Caridade da Madre Teresa! Os seus 22 mil pacientes e funcionários foram deixados sem alimentos e sem medicamentos. Mesmo que a legalidade seja fundamental, os esforços humanitários não podem ser comprometidos”.
De fato, a congregação da Madre Teresa mantém na Índia, assim como no mundo todo, obras fundamentais para a dignidade de milhares de beneficiados, como asilos, orfanatos, refeitórios comunitários, escolas, creches e abrigos para doentes de hanseníase. Todas essas obras são dramaticamente afetadas pelo bloqueio das contas bancárias.
O pe. Dominic Gomes, vigário-geral da arquidiocese de Calcutá, corroborou que o bloqueio em Bengala Ocidental é “um cruel presente de Natal para os mais pobres entre os pobres”.
No tocante às alegações de irregularidades financeiras, um membro do governo que pediu anonimato afirmou à imprensa local que “a decisão de congelar as contas não tem nada a ver com cristianismo”. Ele completou: “Peço à imprensa para não misturar irregularidades financeiras de um grupo de beneficência com sentimentos religiosos”. No entanto, não explicou quais seriam os supostos problemas legais.
Perseguição religiosa na Índia
O fato é que, desde 2014, quando Narendra Modi chegou ao poder, extremistas hindus se fortaleceram em praticamente todos os estados da Índia e começaram a lançar ataques em pequena escala contra minorias religiosas, acusando-as de forçar conversões religiosas. Na vida real, os cristãos representam meros 2,3% da gigantesca população indiana de quase 1,4 bilhão de habitantes, com vasta maioria hinduísta.
Neste Natal, várias igrejas cristãs da Índia foram alvo de ataques e vandalismo. A hostilidade é respaldada pelo mau exemplo dos políticos: vários estados do país já aprovaram ou estão em vias de aprovar leis que impedem a conversão religiosa, o que contradiz a liberdade de culto garantida pela Constituição.