Internacional
Ministro diz que Rússia pretende derrubar governo da Ucrânia
“Ajudaremos o povo ucraniano a se libertar do regime”, afirma Serguei Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, contrariando declarações anteriores sobre o tema. Moscou também ameaça expandir ofensiva
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou que a Rússia tem o objetivo de derrubar o governo ucraniano, contrariando declarações anteriores suas sobre a guerra.
“Nós certamente ajudaremos o povo ucraniano a se libertar do regime, que é totalmente antipovo e anti-história”, disse Lavrov durante uma visita ao Cairo no domingo (24/07). Ele afirmou ainda que o povo russo e o povo ucraniano viveriam juntos no futuro.
A declaração contradiz uma fala de Lavrov de abril, quando ele disse: “Não temos planos de mudança de regime na Ucrânia.” Naquela ocasião, o ministro russo afirmou que cabia aos ucranianos escolherem seu líder.
Autoridades russas vêm nos últimos dias endurecendo seu discurso sobre a guerra na Ucrânia. Na quarta-feira, Lavrov ameaçou ocupar mais áreas além da região do Donbass, no leste da Ucrânia, onde a maior parte dos combates ocorre atualmente.
Um dos motivos apontados para essa ameaça é o envio pelo Ocidente à Ucrânia de armas pesadas com maior raio de alcance, como o sistema de mísseis Himars, produzido nos Estados Unidos. Dessa forma, seria necessário para Moscou empurrar os militares ucranianos para mais longe das províncias de Donetsk e Lugansk, que formam a região do Donbass e reconhecidas pela Rússia como independentes.
A Rússia tem como um dos objetivos da guerra que Kiev reconheça a independência da região do Donbass, e também que reconheça a península da Crimeia, ocupada em 2014 por Moscou, como um território russo.
Zelenski: ucranianos não serão intimidados
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, reagiu indiretamente à afirmação de Lavrov, em um discurso em vídeo na noite de domingo. “Só aqueles que não conhecem a história verdadeira e não compreendem seu significado poderiam decidir nos atacar”, afirmou. Por séculos, os ucranianos foram oprimidos. Eles nunca abririam mão de sua independência e não serão intimidados, disse.
“Preservar a unidade agora, trabalhando juntos pela vitória, é a tarefa nacional mais importante que precisamos realizar juntos”, disse Zelenski. Se os ucranianos conseguirem fazer isso, eles terão sucesso no que gerações anteriores fracassaram: manter a independência da Rússia, fazer da Ucrânia um dos Estados mais modernos do mundo e construir seu caminho na direção da Europa, que seria concluído com a adesão à União Europeia, afirmou.
A ministra do Exterior da Alemanha, Annalena Baerbock, havia rejeitado na quarta-feira, em entrevista à DW, a alegação da Rússia de que o envio de armas do Ocidente desempenharia um papel decisivo para que Moscou expandisse seus objetivos militares na Ucrânia. Ela disse que o Kremlin muda continuamente sua argumentação, e a atual afirmação é “mais uma peça de propaganda do lado russo”.
Frustração com a Otan
Apesar de reforçar sua confiança na vitória dos ucranianos, Zelenski disse que um dos maiores riscos enfrentados pelo seu país hoje é o cansaço em relação à guerra por parte de países do Ocidente, que vêm enviando armas e apoio para o enfrentamento dos invasores russos.
“Todos os países têm seus temas internos. Mas é importante para a gente que as pessoas não se cansem”, afirmou Zelenski em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, veiculada no domingo.
Ele manifestou também estar frustrado com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e reclamou de os líderes de países da aliança militar não terem ouvido os alertas da Ucrânia sobre uma possível invasão russa e agido antes para tentar evitar que isso tivesse acontecido.
Zelenski disse que a Otan deveria ter tratado a Ucrânia como a Suécia e a Finlândia, que após o início da guerra decidiram pedir adesão à aliança militar, que vem tentando ratificá-la com a maior brevidade possível. “Lamento que a Otan não tenha nos ouvido. A Otan deveria ter nos defendido, deveria ter nos tratado do mesmo jeito que trata a Suécia e a Finlândia”, afirmou.