Internacional
Merkel recebe prêmio da Unesco por acolhida a refugiados
Ex-chanceler foi homenageada pela “coragem e liderança” ao receber 1,2 milhão de pessoas na Alemanha no auge da crise migratória de 2015 e 2016
A ex-chanceler federal da Alemanha Angela Merkel recebeu nesta quarta-feira (08/02) o Prêmio da Paz da Unesco por sua decisão de acolher mais de 1,2 milhão de refugiados no auge da crise migratória, em 2015 e 2016, apesar da resistência interna e da oposição de alguns países europeus.
Os organizadores do prêmio disseram que Merkel demonstrou coragem política ao permitir que seu pais recebesse pessoas que fugiam de conflitos na Síria, Iraque, Afeganistão e Eritreia.
O presidente do júri, o vencedor do Nobel da Paz Denis Mukwege, elogiou a ex-chanceler por abrir as portas da Alemanha “ao mesmo tempo em que muitos outros países eram tomados pelo medo”.
Merkel “demonstrou à opinião pública e aos tomadores de decisão que precisamos não apenas defender nossos próprios direitos, mas também os de outros em tempos de crise, e que cada sociedade precisa mais do que nunca respeitar e proteger os direitos humanos sem qualquer forma de discriminação”, afirmou Mukwege.
“Enaltecemos sua humanidade, seu espírito de solidariedade, seu aguçado senso de ética e sua liderança inspiradora”, acrescentou.
O Prêmio da Paz Felix Houphouet-Boigny – que honra a memória do primeiro presidente eleito da Costa do Marfim após a independência da França, em 1960 – foi entregue a Merkel na capital marfinense Yamussucro pela secretária-geral da Unesco, Audrey Azoulay.
Ela elogiou a coragem da ex-líder alemã “enquanto outros queriam lacrar a Europa”. O presidente do Senegal e da União Africana, Macky Sall, qualificou Merkel com uma “extraordinária estadista e humanista”.
“Diálogo é a arma dos fortes”, diz Merkel
A democrata-cristã que governou a Alemanha por 16 anos vem se mantendo longe dos holofotes após transmitir o cargo para seu sucessor, o social-democrata Olaf Scholz, em dezembro de 2021.
Em seu discurso na cerimônia de entrega do prêmio, a ex-chanceler destacou que há cada vez mais conflitosocorrendo ao redor do globo e lançou um apelo por soluções pacíficas. “O diálogo é a arma dos fortes, não dos fracos”, afirmou, antes de dedicar a premiação aos voluntários que trabalharam durante o auge da crise migratória para ajudar no acolhimento aos refugiados.
“Pensávamos que os tempos de guerra na Europa haviam passado”, afirmou. “Mas, desde 24 de fevereiro do ano passado, quando teve início a cruel agressão da Rússia na Ucrânia, chegamos à triste conclusão de que não é este o caso. Isso sacudiu a Europa até as suas raízes.”
O Prêmio Félix Houphouët-Boigny é entregue anualmente desde 1991 a indivíduos e organizações que se dedicam a promover, pesquisar ou garantir a paz. Os primeiros vencedores foram os ex-líderes da África do Sul Nelson Mandela e Frederik de Klerk, responsáveis pela abolição do regime segregacionista apartheid.
O último vencedor foi o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, em 2019, pelo acordo de paz com o país vizinho, Eritreia, embora ele tenha levado o país a um guerra civil no ano seguinte. Em 2020 e 2021 o prêmio não foi entregue em razão da pandemia de covid-19.